Apesar de tudo Abraão acreditou e acreditou para esta vida. Se a sua fé se reportasse à vida futura, ter-se-ia, com facilidade, despojado de tudo, para sair prontamente de um mundo a que já não pertencia. Mas não era desta espécie a fé de Abraão, se acaso isso é fé. A bem dizer não se trata aí de fé, mas apenas de remota possibilidade que adivinha o seu projecto no horizonte longínquo, embora dele separado por um abismo onde se agita a desesperação. Mas a fé de Abraão era para esta vida; acreditava que iria envelhecer na sua terra, honrado e benquisto do seu povo, involvido pela geração de Isaac, o seu mais caro amor nesta vida, a quem abraçava com afecto tal que é insuficiente dizer que cumpria fielmente o dever de pai segundo o espírito do texto: 'O filho a quem amas'; Jacob foi pai de doze filhos e só a um amou; Abraão teve somente um, aquele a quem amava.
"Examinai tudo. Retende o bem", I Tessalonicenses 5:21
Comentários
"acreditar para esta vida" é chave. Cada vez me relembro mais daquela recomendação em Jeremias para os exilados na Babilónia: "plantem uma árvore", ou qualquer coisa assim parecida.
Mas Abraão acreditou para esta vida e para ele o mandamento foi: "sacrifica o teu filho". Isto custa a engolir.