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Foi descrita, com alguma justeza, como uma colónia artística, embora nunca tenha produzido, de maneira definida, qualquer tipo de arte. Muito embora as suas pretensões a centro intelectual fossem um pouco vagas, as suas pretensões a local agradável eram indiscutíveis. O visitante que olhasse pela primeira vez para as bizarras casas vermelhas não poderia deixar de se interrogar sobre a estranha forma que deveriam ter as pessoas para que nelas pudessem viver – e quando as conhece, não ficaria desapontado nesse aspecto. O local não seria apenas agradável, mas perfeito, se ao menos por uma vez ele pudesse olhá-lo não como uma ilusão mas antes como um sonho. Mesmo que os seus habitantes não fossem 'artistas' o conjunto não deixava de ser artístico. Aquele jovem de longos cabelos ruivos e expressão descarada – esse jovem não era um poeta, mas certamente era um poema. Aquele velho cavalheiro de selvagens barbas brancas e de louco chapéu branco – esse venerável impostor, não era realmente um filósofo; mas pelo menos levava outros a filosofar. Aquele cavalheiro das ciências, com a cabeça careca e em forma de ovo e o pelado pescoço de passarinho – não tinha realmente direito a apresentar aqueles ares de cientista. Não fizera nenhuma nova descoberta na área da biologia; mas que criatura biológica poderia descobrir que fosse mais singular do que ele próprio? Por isso, e apenas por isso, todo o local tinha que ser devidamente respeitado; tinha que ser considerado não tanto como uma oficina de artistas, mas como uma frágil, embora acabada, obra de arte. Um homem que penetrasse na sua atmosfera social sentir-se-ia como se tivesse entrado numa obra cómica.

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Dois lados da hospitalidade

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Veio para ver, mas não comprar

During those days Fingerbone was strangely transformed. If one should be shown odd fragments arranged on a silver tray and be told, “That is a splinter from the True Cross, and that is a nail paring dropped by Barabbas, and that is a bit of lint from under the bed where Pilate’s wife dreamed her dream,” the very ordinariness of the things would recommend them. Every spirit passing through the world fingers the tangible and mars the mutable, and finally has come to look and not to buy. So shoes are worn and hassocks are sat upon and finally everything is left where it was and the spirit passes on, just as the wind in the orchard picks up the leaves from the ground as if there were no other pleasure in the world but brown leaves, as if it would deck, clothe, flesh itself in flourishes of dusty brown apple leaves, and then drops them all in a heap at the side of the house and goes on. So Fingerbone, or such relics of it as showed above the mirroring waters, seemed fragments of the quotidi

A sombra da cruz sobre o seu futuro

Conhece o leitor o quadro de Holman Hunt, líder da Irmandade Rafaelita, intitulado “A Sombra da Morte”? ele representa o interior da carpintaria de Nazaré. Jesus, nu até à cintura, está em pé ao lado da serra. Seus olhos estão erguidos ao céu, e seu olhar é de dor ou de êxtase, ou de ambas as coisas. Seus braços também estão estendidos acima da cabeça. O sol da tarde, entrando pela porta aberta, lança, na parede atrás dele, uma sombra negra em forma de cruz. A prateleira de ferramentas tem a aparência de uma trave horizontal sobre a qual as suas mãos foram crucificadas. As próprias ferramentas lembram os fatídicos prego e martelo. Em primeiro plano, no lado esquerdo, uma mulher está ajoelhada entre as aspas de madeira. Suas mãos descansam no baú em que estão guardadas as ricas dádivas dos magos. Não podemos ver a face da mulher, pois ela encontra-se virada. Mas sabemos que é Maria. Ela parece sobressaltar-se com a sombra em forma de cruz que seu filho lança na parede. (…) Embora a i
O que é o amor, em concreto? Não perguntes o que é sem este «em concreto», acabarás com arbitrariedades verbais, piedades, coisas vãs. O que é o amor em concreto, concreto como cimento, como betão, concreto como uma pedra, imagem tão diferente do complicado e impudico coração? O verbete «amor» fala em emoção, estética, ideologia, doença, e nada disso interessa agora mas apenas o amor em concreto, corpos, cortinas, cheiros, cães, o amor que com ou sem aspas mostramos aos outros para que acreditemos também, vejam a minha felicidade, a minha normalidade, a minha desistência. Com o teu amor concreto o mundo encontra uma base estável no meio dos vendavais. E agora suportas todas as decepções. O amor é um vício, uma gangrena, faz mais falta um amor concreto, hábitos, fotos, impostos, torneiras, é contra o amor que o amor concreto triunfa, onde estavas, amor, quando foste preciso, quando ela precisava, ao passo que eu estive sempre aqui ao seu lado? Que importam as tuas escaladas, os teus me
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Olhar o mar do alto de uma falésia

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