tag:blogger.com,1999:blog-82787342573449034972024-03-14T08:01:17.606+00:00Eu cito"Examinai tudo. Retende o bem", I Tessalonicenses 5:21JDChttp://www.blogger.com/profile/00229323175665232824noreply@blogger.comBlogger637125tag:blogger.com,1999:blog-8278734257344903497.post-42167813669490778122023-06-05T23:58:00.008+01:002023-06-06T00:02:36.295+01:00Sepultados sob a ignorância de nós mesmosNaquele momento, no alto do Monte Morco, tudo era nítido e luminoso; no entanto, a escuridão daquela noite mantinha-se estagnada no fundo da alma de Don Fabrizio. O seu mal-estar assumia formas penosas e vagas; não era provocado pelas grandes questões que o Plebiscito começara a resolver: os grandes interesses do Reino (das Duas Sicílias), os interesses da sua classe, os seus privilégios saíam de todos aqueles acontecimentos um tanto ou quanto amachucados mas preservados no essencial; dadas as circunstâncias não seria legítimo pedir mais; o seu mal-estar não era de natureza política e devia ter raízes mais profundas, enterradas num daqueles pretextos a que chamamos irracionais porque estão sepultados sob montões de ignorância de nós mesmos. <div><br /></div><div><i>O Leopardo [Il Gattopardo] </i></div><div><i>Página 88 </i></div><div><i>G. Tomasi de Lampedusa </i></div><div><i>1958 dC </i></div><div><i>Editora: Visão
</i></div>Tiago Francohttp://www.blogger.com/profile/11941799217620099189noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8278734257344903497.post-50216932331215153062023-01-10T20:29:00.001+00:002023-01-10T20:29:06.703+00:00Uma defesa da solidãoVivemos numa sociedade em que a solidão se tornou numa das feridas mais dolorosas. A competição e a rivalidade que impregnam as nossas vidas, desde o nascimento, criaram em nós uma percepção muito acentuada do nosso isolamento. Esta percepção deixou, por sua vez, muitas pessoas com uma ansiedade exacerbada e um desejo imenso de experimentar a unidade e a comunhão. Levou também as pessoas a inquirir de novo como é que o amor, a amizade e a irmandade as pode libertar do isolamento e proporcionar-lhes um sentido de intimidade e de pertença. Tudo à nossa volta nos fala de como os habitantes do mundo ocidental tentam escapar a essa solidão. A psicoterapia, os diversos institutos que proporcionam experiências de grupo com técnicas de comunicação verbais e não-verbais, cursos de Verão e conferências patrocinadas por intelectuais, educadores e «curiosos» onde as pessoas podem partilhar problemas comuns, inúmeras experiências que procuram criar liturgias íntimas, onde a paz não é apenas anunciada mas também sentida - estes fenómenos populares, que despontam de modo crescente, são todos sinais de uma tentativa dolorosa de derrubar os muros paralisantes da solidão. <div><br /></div><div>Mas quanto mais penso na solidão mais me convenço que o ferimento da solidão é como o Grand Canyon - uma incisão profunda na superfície da nossa existência, que se tornou numa fonte inesgotável de beleza e de autocompreensão. </div><div>Por conseguinte, gostaria de proclamar, com clareza e de modo audível, o que pode parecer impopular e talvez até perturbador: o modo de vida cristão não afasta de nós a solidão; protege-a, acarinha-a como um dom precioso. Por vezes parece que fazemos o possível e o impossível para evitar um confronto doloroso com a nossa solidão humana fundamental, e permitimos a nós próprios enredarmo-nos com falsos deuses que prometem satisfação imediata e alívio rápido. Mas talvez a percepção penosa da nossa solidão seja um convite a transcender as nossas limitações e a olhar para além dos limites da nossa existência. A percepção da solidão pode ser um dom que devemos proteger e guardar, porque a nossa solidão nos revela um vazio interior que pode ser destrutivo quando mal compreendido, mas repleto de promessas para quem for capaz de tolerar a sua suave dor. </div><div><br /></div><div>Quando somos impacientes, quando desejamos desistir cedo demais da nossa solidão e tentamos ultrapassar a separação e a sensação de não acabado que sentimos, relacionamo-nos facilmente com o nosso mundo humano movidos por expectativas devastadoras. Ignoramos o que já sabemos com um conhecimento intuitivo e profundamente instalado - que nenhum amor ou amizade, nenhum abraço íntimo ou beijo terno, nenhuma comunidade, comuna ou colectividade, nenhum homem ou mulher, poderá jamais satisfazer o nosso desejo de sermos libertados da nossa condição solitária. Esta verdade é de tal modo desconcertante e penosa que estamos mais rapidamente dispostos a entregarmo-nos às nossas fantasias do que a encarar a verdade da nossa existência. Assim, continuamos à espera de um dia encontrar o homem que compreenda realmente as nossas experiências, a mulher que traga a paz à nossa vida insatisfeita, o emprego onde possamos realizar o nosso potencial, o livro que irá explicar tudo, e o lugar onde nos sintamos realmente em casa. Tais falsas esperanças levam-nos a fazer exigências esgotantes e preparam-nos para a hostilidade amarga e perigosa, quando começamos a perceber que nada nem ninguém é capaz de satisfazer inteiramente as nossas expectativas absolutistas. </div><div><br /></div><div>Muitos casamentos são destruídos porque nenhum dos cônjuges foi capaz de preencher a esperança, muitas vezes escondida e inconfessada, de que o outro afastasse definitivamente a solidão. E muitos celibatários vivem no sonho ingénuo de que na intimidade do casamento a sua solidão terminaria.</div><div>Quando o ministro vive com estas falsas esperanças e ilusões, impede-se a si próprio de reclamar a sua própria solidão como fonte de compreensão humana, e é incapaz de proporcionar um serviço realmente eficaz às inúmeras pessoas que não compreendem o seu próprio sofrimento. </div><div><br /></div><div><i>O curador ferido [The wounded healer] </i></div><div><i>Página 101 </i></div><div><i>Henri Nouwen </i></div><div><i>1979 dC </i></div><div><i>Editora: Paulinas
</i></div>Tiago Francohttp://www.blogger.com/profile/11941799217620099189noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8278734257344903497.post-4055468410999914012022-12-19T00:06:00.004+00:002022-12-19T00:09:43.575+00:00O homem nuclear<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXwyGvItvsn7a9svBta6tELzHITmvA8bWSfYCAbylROz1P_k-2m6AkOwgzX8STGwJuYtYi2jRqWcx6uodAcySXWBf4-CQJUsS6fnWAoVTMPDjaUP8J0aL3Z0BaSLmd5o-hLyHIH-bz5I4L5nxhMIE44LgrgTouMn7_4hU50gY8rq2mjVCEJew_TZrqLw/s1200/r0_338_4000_2587_w1200_h678_fmax.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="675" data-original-width="1200" height="360" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXwyGvItvsn7a9svBta6tELzHITmvA8bWSfYCAbylROz1P_k-2m6AkOwgzX8STGwJuYtYi2jRqWcx6uodAcySXWBf4-CQJUsS6fnWAoVTMPDjaUP8J0aL3Z0BaSLmd5o-hLyHIH-bz5I4L5nxhMIE44LgrgTouMn7_4hU50gY8rq2mjVCEJew_TZrqLw/w640-h360/r0_338_4000_2587_w1200_h678_fmax.jpg" width="640" /></a></div>O homem nuclear é aquele que compreende que os seus poderes criativos contêm o potencial da autodestruição. Ele apercebe-se de que, nesta era nuclear, vastos e novos complexos industriais permitem ao homem produzir numa hora o que outrora levava anos a produzir, mas compreende igualmente que estas mesma indústrias perturbaram o equilíbrio ecológico e, através da poluição atmosférica e sonora, contaminaram o seu próprio ambiente. O homem nuclear conduz automóveis, ouve telefonia e vê televisão, mas perdeu a capacidade de compreender o funcionamento dos instrumentos de que se serve. Vê à sua volta uma tal variedade e abundância de objectos úteis que a escassez já não lhe motiva a vida, mas ele anda simultâneamente às apalpadelas à procura de uma direcção e em busca de sentido e de objectivo. Durante este processo, ele sofre do conhecimento inevitável de que o seu tempo é o tempo em que se tornou possível ao Homem destruir não só a vida mas também a possibilidade de renascimento, não só do indivíduo mas de toda a Humanidade, não só períodos da existência mas a própria História. Para o homem nuclear o futuro tornou-se numa opção. <div><br /></div><div><i>O curador ferido [The wounded healer] </i></div><div><i>Página 20 </i></div><div><i>Henri Nouwen </i></div><div><i>1979 dC </i></div><div><i>Editora: Paulinas
</i></div>Tiago Francohttp://www.blogger.com/profile/11941799217620099189noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8278734257344903497.post-52631522528938363492022-10-10T08:00:00.002+01:002023-06-06T00:02:07.177+01:00Um dia ideal para fazer um exame interiorUm dia ideal para fazer um exame interior: esta claridade fria que o sal projecta, como uma sentença sem indulgência, sobre as criaturas, entra em mim pelos olhos; estou iluminado, por dentro, por uma luz depauperante. Bastar-me-ia um quarto de hora, tenha a certeza, para chegar ao asco supremo por mim próprio. Muito obrigado, não estou interessado. <div><br /></div><div><i>A Náusea [La Nausée] </i></div><div><i>Página 30 </i></div><div><i>Jean-Paul Sartre </i></div><div><i>1938 dC </i></div><div><i>Editora: Livros do Brasil</i></div>Tiago Francohttp://www.blogger.com/profile/11941799217620099189noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8278734257344903497.post-59989009737913365402022-02-14T23:43:00.007+00:002022-12-19T00:14:28.593+00:00A existência ao acordar num dia de chuva<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJRnSEML2n3ISWz9k6de_uPKobZn0jP5Nm-GB5ptg71XkVawSThM_ckfwS1Sg-ZOfwfXnOYofgbCFWdAvAlteO8s6Lj0dJxH8sp4Cssu5JMFb2-XvQVUqhz7DHtqvUHw_M4riR5G7G0x1qBjQlhrXvrXG4B9TzpywNp-EU9OvgWXaQ6vPLs23Jqso_Og/s1920/ZE32vHRQA9hZLLP3MyJ9A6.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1920" height="360" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJRnSEML2n3ISWz9k6de_uPKobZn0jP5Nm-GB5ptg71XkVawSThM_ckfwS1Sg-ZOfwfXnOYofgbCFWdAvAlteO8s6Lj0dJxH8sp4Cssu5JMFb2-XvQVUqhz7DHtqvUHw_M4riR5G7G0x1qBjQlhrXvrXG4B9TzpywNp-EU9OvgWXaQ6vPLs23Jqso_Og/w640-h360/ZE32vHRQA9hZLLP3MyJ9A6.jpg" width="640" /></a></div><div><br /></div>E por fim, sobre a escuridão dos telhados lustrosos, a luz fria da manhã tépida raia como um suplício do Apocalipse. É outra vez a noite imensa da claridade que aumenta. E outra vez o horror de sempre — o dia, a vida, a utilidade fictícia, a atividade sem remédio. E outra vez a minha personalidade física, visível, social, transmissível por palavras que não dizem nada, usável pelos gestos dos outros e pela consciência alheia. Sou eu outra vez, tal qual não sou. Com o princípio da luz de trevas que enche de dúvidas cinzentas as frinchas das portas das janelas — tão longe de herméticas, meu Deus! -, vou sentindo que não poderei guardar mais o meu refúgio de estar deitado, de não estar dormindo mas de o poder estar, de ir sonhando, sem saber que há verdade nem realidade, entre um calor fresco de roupas limpas e um desconhecimento, salvo de conforto, da existência do meu corpo. Vou sentindo fugir-me a inconsciência feliz com que estou gozando da minha consciência, o modorrar de animal com que espreito, entre pálpebras de gato ao sol, os movimentos da lógica da minha imaginação desprendida Vou sentindo sumirem-se-me os privilégios da penumbra, e os rios lentos sob as árvores das pestanas entrevistas, e o sussurro das cascatas perdidas entre o som do sangue lento ‘ nos ouvidos e o vago perdurar de chuva. Vou-me perdendo até vivo. <div><br /><div>Não sei se durmo, ou se só sinto que durmo. Não sonho o intervalo certo, mas reparo, como se começasse a despertar de um sono não dormido, os primeiros ruídos da vida da cidade, a subir, como uma cheia do lugar vago, lá em baixo, onde ficam as ruas que Deus fez. São sons alegres, coados pela tristeza da chuva que há, ou, talvez, que houve — pois a não oiço agora -. Só o cinzento excessivo da luz frinchada até mais longe que me dá, nas sombras de uma claridade frouxa, insuficiente para a altura da madrugada, que não sei qual é... São sons alegres e dispersos e doem-me no coração como se me viessem, com eles, chamar a um exame ou a uma execução. Cada dia, se o oiço raiar da cama onde ignoro, me parece o dia de um grande acontecimento meu que não terei coragem para enfrentar. Cada dia, se o sinto erguer-se do leito das sombras, com um cair de roupas da cama pelas ruas e pelas vielas, vem chamar-me a um tribunal. Vou ser julgado em cada hoje que há. E o condenado perene que há em mim agarra-se ao leito como à mãe que perdeu, e acaricia o travesseiro como se a ama o defendesse de gentes.</div><div><br /></div><div>A sesta feliz do bicho grande à sombra de árvores, o cansaço fresco do esfarrapado entre a erva alta, o torpor do negro na tarde morna e longínqua, a delícia do bocejo que pesa nos olhos frouxos tudo que acaricia o esquecimento, sono, o sossego do repouso na cabeça, encostando, pé ante pé, as portas da janela na alma, o afago anónimo de dormir.</div><div><br /></div><div>Dormir, ser longínquo sem o saber, estar distante, esquecer com o próprio corpo; ter a liberdade de ser inconsciente, um refúgio de lago esquecido, estagnado entre frondes árvores, nos vastos afastamentos das florestas. </div><div><br /></div><div>Um nada com respiração por fora, uma morte leve de que se desperta com saudade e frescura, um ceder dos tecidos da alma à massagem do esquecimento. </div><div><br /></div><div>Ah, e de novo, como o protesto reatado de quem se não convenceu, oiço o alarido brusco da chuva chapinhar no universo aclarado. Sinto um frio até aos ossos supostos, como se tivesse medo. E agachado, nulo, humano a sós comigo na pouca treva que ainda me resta, choro. Sim, choro, choro de solidão e de vida, e a minha mágoa fútil como um carro sem rodas jaz à beira da realidade entre os estercos do abandono. Choro de tudo, entre perda do regaço, a morte da mão que me davam, os braços que não soube como me cingissem, o ombro que nunca poderia ter... E o dia que raia definitivamente, a mágoa que raia em mim como a verdade crua do dia, o que sonhei, o que pensei, o que se esqueceu em mim — tudo isso, numa amálgama de sombras, de ficções e de remorsos, se mistura no rastro em que vão os mundos e cai entre as coisas da vida como o esqueleto de um cacho de uvas, comido à esquina pelos garotos que o roubaram. </div><div><br /></div><div>O ruído do dia humano aumenta de repente, como um som de sineta de chamada. Estala adentro da casa o fecho suave da primeira porta que se abre para viverem. Oiço chinelos num corredor absurdo que conduz até meu coração. E num gesto brusco, como quem enfim se matasse, arrojo de sobre o corpo duro as roupas profundas da cama que me abriga. Despertei. O som da chuva esbate-se para mais alto no exterior indefinido. Sinto-me mais feliz. Cumpri uma coisa que ignoro. Ergo-me, vou à janela, abro as portas com uma decisão de muita coragem. Luze um dia de chuva clara que me afoga os olhos em luz baça. Abro as próprias janelas de vidro. O ar fresco humedece-me a pele quente. Chove, sim, mas ainda que seja o mesmo é afinal tão menos! Quero refrescar-me, viver, e inclino o pescoço à vida, como a uma canga imensa.</div></div><div><br /></div><i>
O Livro do Desassossego </i><div><i>entrada 436</i></div><div><i>Fernando Pessoa </i></div><div><i>1935 dC </i></div><div><i>Editora: Revista Visão
</i></div>Tiago Francohttp://www.blogger.com/profile/11941799217620099189noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8278734257344903497.post-27656389731247548822021-10-25T08:00:00.009+01:002021-10-25T08:00:00.272+01:00Possuído pela estupidez<div style="text-align: left;"><iframe allow="accelerometer; autoplay; clipboard-write; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture" allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/ww47bR86wSc" title="YouTube video player" width="560"></iframe> </div><div>The power of the one needs the stupidity of the other. The process at work here is not that particular human capacities, for instance, the intellect, suddenly atrophy or fail. Instead, it seems that under the overwhelming impact of rising power, humans are deprived of their inner independence, and, more or less consciously, give up establishing an autonomous position toward the emerging circumstances. The fact that the stupid person is often stubborn must not blind us to the fact that he is not independent. In conversation with him, one virtually feels that one is dealing not at all with a person, but with slogans, catchwords and the like that have taken possession of him. He is under a spell, blinded, misused, and abused in his very being. Having thus become a mindless tool, the stupid person will also be capable of any evil and at the same time incapable of seeing that it is evil. This is where the danger of diabolical misuse lurks, for it is this that can once and for all destroy human beings.
</div>Tiago Francohttp://www.blogger.com/profile/11941799217620099189noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8278734257344903497.post-78614209241667771032021-10-18T23:32:00.003+01:002021-10-18T23:42:40.015+01:00Aristocracia do povo ou aristocracia da aristocracia: uma problemática para o humor<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiIJh7Us2rSjjDVVwKvXqUt6D0TJB4r0HC6A-PL4PNr6ROFak557twrbYz2Yj5IVeiSqdY5YZJDerX91IRNyebYoNUscXFEHb7uogFuCefD0_6l7nU44HG6tdYe2fm4GPDLCwhjWInau4dH/s497/sapateiro.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="332" data-original-width="497" height="428" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiIJh7Us2rSjjDVVwKvXqUt6D0TJB4r0HC6A-PL4PNr6ROFak557twrbYz2Yj5IVeiSqdY5YZJDerX91IRNyebYoNUscXFEHb7uogFuCefD0_6l7nU44HG6tdYe2fm4GPDLCwhjWInau4dH/w640-h428/sapateiro.jpg" width="640" /></a></div><br /><div><br /></div>Nenhum território se aproxima mais da nossa condição do que a melancólica América. Só ela nos pode esclarecer um pouco sobre o nosso futuro. Lá, não se vê um déspota como o cardeal de Fleury que, segundo creio, reinava em França no tempo do senhor de Brosses. Lá, a déspota é a mediocridade grosseira, que exige ser adulada. Em Nova Iorque, La Fontaine não se atreveria a dizer: <div><blockquote>Como odeio o ignorante vulgo! </blockquote></div><div>Pela minha parte, gostava que o vulgo fosse feliz. A felicidade é como o calor, que passa dos lugares mais baixos para os mais altos. No entanto, não gostaria, por nada deste mundo, de viver com o vulgo e ainda menos ser obrigado a adulá-lo.
Em Nova Iorque e em Filadélfia, não é ao senhor barão Poitou, que tem um distinto palacete na Chaussée-d’Antin, oitenta mil libras de rendimento e que, para mais, é assinante da Revue de Paris, que temos de agradar. Em Nova Iorque, é ao sapateiro e ao seu amigo tintureiro, que tem dez filhos, que temos de agradar. E, para cúmulo do ridículo, o sapateiro é metodista e o tintureiro anabaptista. <div><br /></div><div><i>Do Riso [Du Rire] </i></div><div><i>Página 129 </i></div><div><i>Stendhal </i></div><div><i>1816 dC </i></div><div><i>Editora: Europa-América
</i></div></div>Tiago Francohttp://www.blogger.com/profile/11941799217620099189noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8278734257344903497.post-40900028332192994522021-09-19T20:19:00.003+01:002022-10-09T17:39:36.129+01:00Na sua mente formavam-se palavrasA questão é que tenho que continuar contigo - disse ele, sem qualquer nota de amargura nas palavras; nem ele a sentia.
Houve um breve silêncio antes de ela replicar:
Não me conformo com estas renúncias. Estás a abandoná-la por uma questão de escrúpulos. É uma parvoíce.
Desta vez passou um minuto ou mais sem que trocassem quaisquer palavras. Dixon sentiu que o seu papel naquela conversa, tal como no conjunto das suas relações com Margaret, tinha sido dirigido por uma coisa que era exterior a ele mas que também não se encontrava directamente presente nela. Sentiu mais do que nunca que o que dizia e fazia não provinha da sua própria vontade, nem sequer do tédio, mas de uma espécie de sentido de situação. E de onde era oriundo esse sentido se, como parecia, não participava da sua geração? Com inquietude, apercebeu-se de que na sua mente se formavam palavras. Eram palavras que, como não podia pensar noutras, rapidamente se ouviria a pronunciar. Levantou-se, pensando que poderia aproximar-se da janela e encontrar um tema de conversa alternativo naquilo que observasse, mas antes de lá chegar, virou-se e disse:
Não é uma questão de escrúpulos, mas de ver o que se tem de fazer. <div><br /></div><div><i>A Sorte de Jim [Lucky Jim] </i></div><div><i>Página 279 </i></div><div><i>Kingsley Amis</i></div><div><i>1953 dC </i></div><div><i>Editora: Quetzal
</i></div>Tiago Francohttp://www.blogger.com/profile/11941799217620099189noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8278734257344903497.post-21895600366844127652021-08-30T08:00:00.004+01:002021-08-30T08:00:00.266+01:00Monumentos à economia<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1YFqP5uShHiVE4ekkadY8N4APBr5o7-7c201wmplM0ih-3yHikrkgJMnkK6jB1da1tlN8uP2nCw4B0HEkb9CzfsFDuI3OYWk7vhvHS3fhh7hCQEc_1ThDYCS4k_UVJMb3oAxYrnd2hs4l/s1500/pipes.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1500" data-original-width="1500" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1YFqP5uShHiVE4ekkadY8N4APBr5o7-7c201wmplM0ih-3yHikrkgJMnkK6jB1da1tlN8uP2nCw4B0HEkb9CzfsFDuI3OYWk7vhvHS3fhh7hCQEc_1ThDYCS4k_UVJMb3oAxYrnd2hs4l/w640-h640/pipes.jpg" width="640" /></a></div><br />Para afastar aquele pensamento, abriu o armário que continha os seus acessórios e máquinas de fumador - monumentos, alguns deles dispendiosos, à economia. Tanto quanto se recordava, nunca tinha conseguido fumar tanto como desejava. Aquele arsenal de dispositivos tinha sido erguido à medida que ia experimentando cada nova forma que encontrava de tentar fumar tanto como queria: o seco maço de tabaco barato para fazer cigarros, o cachimbo de cerejeira, o pacote vermelho de mortalhas, o pacote de limpadores de cachimbo, a máquina de cigarros de couro, a ferramenta quadripartida para os cachimbos, o esmigalhado pacote de tabaco barato para cachimbo, o pacote de filtros de lã e algodão (novo processo), a máquina de cigarros niquelada, o cachimbo de barro, o cachimbo de roseira, o pacote azul de mortalhas, o pacote de mistura de ervas para fumar (com a garantia de não ter nicotina e outras substâncias nocivas. Porquê?), a lata enferrujada de tabaco caro para cachimbo, o pacote de filtros de giz para cachimbo. Dixon tirou um cigarro do maço e acendeu-o. <div><br /></div><div><i>A Sorte de Jim [Lucky Jim] </i></div><div><i>Página 233</i></div><div><i>Kingsley Amis </i></div><div><i>1953 dC </i></div><div><i>Editora: Quetzal
</i></div>Tiago Francohttp://www.blogger.com/profile/11941799217620099189noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8278734257344903497.post-59306632454374645892021-07-19T09:00:00.007+01:002021-07-21T23:04:01.157+01:00Um primeiro encontro com a beleza<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwiSsXoD0oO25wsnX4g65sMznn0cHQiPtCU5Ev76L8o_zhXpZ25TEBCc4SoN_pcq41cJOZIowmXlLa4jnT8L4ncsmaZajVBXeZ71HH-HLfZxeoooLQDSBLsNV28_JLBJcIi0jOtQBLZj44/s640/branches.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="358" data-original-width="640" height="358" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwiSsXoD0oO25wsnX4g65sMznn0cHQiPtCU5Ev76L8o_zhXpZ25TEBCc4SoN_pcq41cJOZIowmXlLa4jnT8L4ncsmaZajVBXeZ71HH-HLfZxeoooLQDSBLsNV28_JLBJcIi0jOtQBLZj44/w640-h358/branches.jpg" width="640" /></a></div><br />And of course beauty: the beauty that was for him the link between the ships and the woods and the poems. He remembered as though it were but a few days ago that winter night, himself too young even to know the meaning of beauty, when he had looked up at a delicate tracery of bare black branches against the icy glittering stars: suddenly something that was, all at once, pain and longing and adoring had welled up in him, almost choking him. He had wanted to tell someone, but he had no words, inarticulate in the pain and the glory. It was long afterwards that he realised that it had been his first aesthetic experience. That nameless something that had stopped his heart was Beauty. Even now, for him, “bare branches against the stars” was a synonym for beauty. <div><br /></div><div><i>A Severe Mercy <br /></i><i>Página 7 </i></div><div><i>Sheldon Vanauken </i></div><div><i>1977 dC </i></div><div><i>Editora: Harper & Row
</i></div>Tiago Francohttp://www.blogger.com/profile/11941799217620099189noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8278734257344903497.post-21499736241893483012021-04-21T19:31:00.006+01:002021-10-17T23:08:36.847+01:00Entrincheirados pelo pior do que os outros dizem
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikOjJlz3iwpLsl_g8OlXw6qdjP4AuDH90hEkKTQPZ4x6CPDOwGLv5ogf9nzAPGgy4hm2d1qIR13QmXDNDr1_gF_x-p0ECAt-6ON8H13DmxVWxIOyVhMfr2w4JJt8sjINdBSDXtF3SM0r-r/s1500/trincheiras.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="520" data-original-width="1500" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikOjJlz3iwpLsl_g8OlXw6qdjP4AuDH90hEkKTQPZ4x6CPDOwGLv5ogf9nzAPGgy4hm2d1qIR13QmXDNDr1_gF_x-p0ECAt-6ON8H13DmxVWxIOyVhMfr2w4JJt8sjINdBSDXtF3SM0r-r/s16000/trincheiras.jpg" /></a></div><div>In any fairly large and talkative community such as a university, there is always the danger that those who think alike should gravitate together into 'coteries' where they will henceforth encounter opposition only in the emasculated form of rumor that the outsiders say thus and thus. The absent are easily refuted, complacent dogmatism thrives, and differences of opinion are embittered by group hostility. Each group hears not the best, but the worst, that the other groups can say.</div><div><i><a href="https://en.m.wikipedia.org/wiki/Socratic_Club?fbclid=IwAR1L-xNc1JI4GWShP5E0GSqpV3o7dSZSkDIxycJNjkWY2VgHt_eHv0fcUt8">C. S. Lewis</a></i></div>Tiago Francohttp://www.blogger.com/profile/11941799217620099189noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8278734257344903497.post-42693044234033465872021-04-12T08:00:00.021+01:002021-04-12T08:00:00.285+01:00Crucificar Jesus com actualizaçõesO evangelho pode ser “modernizado”? Será factível esperar que a igreja aplique a fé histórica ao cenário contemporâneo, a Palavra ao mundo, sem trair a primeira nem alienar o segundo? Será que o cristianismo pode conservar autêntica a sua identidade e ao mesmo tempo demonstrar a sua relevância, ou é preciso sacrificar um deles em detrimento do outro? Seremos obrigados a escolher entre voltar ao passado e fazer do presente um amuleto, entre recitar velhas verdades que são antiquadas e inventar novas ideias que são espúrias? Dentre estes dois, talvez o maior perigo seja o de que a igreja tente reformular a fé de forma a solapar sua integridade, tornando-a irreconhecível diante dos seus arautos originais. Eu proponho que agora nos concentremos neste problema; o resto do livro dirige-se, de diferentes maneiras, ao problema complementar da relevância. <div><br /></div><div>Em 1937, o académico Harvard Henry J. Cadbury publicou o seu livro O Perigo de Modernizar Jesus. Ele admitiu que o propósito - aliás, louvável - dos “modernizadores” de Jesus era “interpretá-lo em termos que pareçam reais, ou seja, termos modernos, adequados à mente moderna”. O resultado, porém, sempre foi falsificá-lo, e em especial perder de vista sua característica judaica do primeiro século. Tal como os soldados que zombavam de Jesus “rasgaram as suas vestes e lhe puseram uma manta escarlate”, e então, após escarnecerem dele, “tiraram-lhe o manto de púrpura e lhe puseram as próprias roupas”, assim também nós colocamos em Jesus “a nossa própria roupagem” e o revestimos dos “nossos próprios pensamentos”. </div><div><br /></div><div>Mesmo assim, o desejo de apresentar Jesus de uma forma que apeteça a nossa própria geração é obviamente louvável. Era esta a preocupação de Bonhoeffer na prisão: “O que me preocupa incessantemente”, escreveu ele, em 1944, ao seu amigo Eberhard Bethge, “é a questão de… quem é Cristo de facto para nós hoje?” Esta é, sem dúvida alguma, uma pergunta inquietante. Todavia, ao respondê-la, a tendência da igreja tem sido, em cada geração, desenvolver imagens de Cristo que se desviam do retrato pintado pelos autores no Novo Testamento. </div><div>Helmut Thielike foi muito sincero quanto a isso. “Sempre e sempre de novo, a figura de Jesus tem sido terrivelmente amputada”, escreveu ele, “a fim de adaptar-se ao gosto de cada geração”. </div><div><blockquote>Durante toda a história da igreja, Jesus Cristo tem passado por um processo de repetida crucificação. Ele tem sido açoitado, machucado e trancafiado na prisão de incontáveis sistemas e filosofias. Tratado como um corpo de pensamento, ele geralmente tem sido rebaixado a sepulturas conceptuais e coberto com lápides, a fim de que não possa ressurgir e causar-nos mais problemas… Mas este é o milagre - que dessa sucessão de sepulturas conceptuais Jesus Cristo sempre e sempre ressuscita de novo!</blockquote><p><br /></p><span id="docs-internal-guid-140f7708-7fff-ccab-61fa-88b4fc01b430"><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 3pt;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 14pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><i>Ouça o Espírito, Ouça o Mundo [The Contemporary Christian]</i></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 3pt;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 14pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><i>Página 18</i></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 3pt;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 14pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><i>John Stott</i></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 3pt;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 14pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><i>1992 dC</i></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 3pt;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 14pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><i>Editora: ABU Editora</i></span></p></span><p> </p></div>Tiago Francohttp://www.blogger.com/profile/11941799217620099189noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8278734257344903497.post-28626911376743697492021-03-22T08:00:00.041+00:002021-03-22T08:00:00.391+00:00O processo de fabricar e prestar culto a um ídoloTodos os artífices de imagens de escultura são vaidade, e as suas coisas mais desejáveis são de nenhum préstimo; e suas mesmas testemunhas nada veem, nem entendem, para que eles sejam confundidos. Quem forma um deus e funde uma imagem de escultura, que é de nenhum préstimo? Eis que todos os seus seguidores ficarão confundidos, pois os mesmos artífices são dentre os homens; ajuntem-se todos e levantem-se; assombrar-se-ão e serão juntamente confundidos. <div><br /></div><div>O ferreiro faz o machado, e trabalha nas brasas, e o forma com martelos, e o lavra com a força do seu braço; ele tem fome, e a sua força falta, e não bebe água, e desfalece. O carpinteiro estende a régua, e emprega a almagra, e aplaina com o cepilho, e marca com o compasso, e faz o seu deus à semelhança de um homem, segundo a forma de um homem, para ficar em casa. </div><div><br /></div><div>Tomou para si cedros, ou toma um cipreste, ou um carvalho e esforça-se contra as árvores do bosque; planta um olmeiro, e a chuva o faz crescer. Então, servirão ao homem para queimar; com isso, se aquenta e coze o pão; também faz um deus e se prostra diante dele; fabrica uma imagem de escultura e ajoelha diante dela. Metade queima, com a outra metade come carne; assa-a e farta-se; também se aquenta e diz: Ora, já me aquentei, já vi o fogo. Então, do resto faz um deus, uma imagem de escultura; ajoelha-se diante dela, e se inclina, e lhe dirige a sua oração, e diz: Livra-me, porquanto tu és o meu deus. </div><div><br /></div><div>Nada sabem, nem entendem; porque se lhe untaram os olhos, para que não vejam, e o coração, para que não entendam. E nenhum deles toma isso a peito, e já não têm conhecimento nem entendimento para dizer: Metade queimei, e cozi pão sobre as suas brasas, e assei sobre elas carne, e a comi; e faria eu do resto uma abominação? Ajoelhar-me-ia eu ao que saiu de uma árvore? Apascenta-se de cinza; o seu coração enganado o desviou, de maneira que não pode livrar a sua alma, nem dizer: Não há uma mentira na minha mão direita?<div><br /></div><div><a href="https://www.biblegateway.com/passage/?search=Isa%C3%ADas+44&version=ARC">Isaías 44:9-20</a></div></div><div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRs1-4lUP15ACkQBLEYPPWevM80vcBKo3UyZGx3zMQGSLPeqqYpxZJvxYFdrUJSYTnZbc19v8hv4hjYXSRdFsXcplBqp35OifO2WF6GI_FI67ya3tcC9_wHU2dnxVr8LfAB9izLyMo3wCV/s600/lenha.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="338" data-original-width="600" height="360" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRs1-4lUP15ACkQBLEYPPWevM80vcBKo3UyZGx3zMQGSLPeqqYpxZJvxYFdrUJSYTnZbc19v8hv4hjYXSRdFsXcplBqp35OifO2WF6GI_FI67ya3tcC9_wHU2dnxVr8LfAB9izLyMo3wCV/w640-h360/lenha.jpg" width="640" /></a></div><br /><div><br /></div><span style="color: #38761d;">All those who make no-god idols don’t amount to a thing, and what they work so hard at making is nothing. Their little puppet-gods see nothing and know nothing—they’re total embarrassments! Who would bother making gods that can’t do anything, that can’t “god”? Watch all the no-god worshipers hide their faces in shame. Watch the no-god makers slink off humiliated when their idols fail them. Get them out here in the open. Make them face God-reality. </span><div><span style="color: #38761d;"><br /></span></div><div><span style="color: #38761d;">The blacksmith makes his no-god, works it over in his forge, hammering it on his anvil—such hard work! He works away, fatigued with hunger and thirst. </span></div><div><span style="color: #38761d;"><br /></span></div><div><span style="color: #38761d;">The woodworker draws up plans for his no-god, traces it on a block of wood. He shapes it with chisels and planes into human shape—a beautiful woman, a handsome man, ready to be placed in a chapel. He first cuts down a cedar, or maybe picks out a pine or oak, and lets it grow strong in the forest, nourished by the rain. Then it can serve a double purpose: Part he uses as firewood for keeping warm and baking bread; from the other part he makes a god that he worships—carves it into a god shape and prays before it. With half he makes a fire to warm himself and barbecue his supper. He eats his fill and sits back satisfied with his stomach full and his feet warmed by the fire: “Ah, this is the life.” And he still has half left for a god, made to his personal design—a handy, convenient no-god to worship whenever so inclined. Whenever the need strikes him he prays to it, “Save me. You’re my god.” </span></div><div><span style="color: #38761d;"><br /></span></div><div><span style="color: #38761d;">Pretty stupid, wouldn’t you say? Don’t they have eyes in their heads? Are their brains working at all? Doesn’t it occur to them to say, “Half of this tree I used for firewood: I baked bread, roasted meat, and enjoyed a good meal. And now I’ve used the rest to make a repulsive no-god. Here I am praying to a stick of wood!” </span></div><div><span style="color: #38761d;"><br /></span></div><div><span style="color: #38761d;">This lover of emptiness, of nothing, is so out of touch with reality, so far gone, that he can’t even look at what he’s doing, can’t even look at the no-god stick of wood in his hand and say, “This is crazy.”</span><div><br /></div><div><a href="https://www.biblegateway.com/passage/?search=Isa%C3%ADas+44&version=MSG">Versão The Message</a></div></div>Tiago Francohttp://www.blogger.com/profile/11941799217620099189noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8278734257344903497.post-41990034539495032182021-03-15T08:00:00.004+00:002021-03-15T08:00:02.360+00:00Tudo sujeito às leis fatais<p>Retendo, da ciência, somente aquele seu preceito central, de que tudo é sujeito às leis fatais, contra as quais se não reage independentemente, porque reagir é elas terem feito que reagíssemos; e verificando como esse preceito se ajusta ao outro, mais antigo, da divina fatalidade das coisas, abdicamos do esforço como os débeis do entretimento dos atletas, e curvamo-nos sobre o livro das sensações com um grande escrúpulo de erudição sentida. Não tomando nada a sério, nem considerando que nos fosse dada, por certa, outra realidade que não as nossas sensações, nelas nos abrigamos, e a elas exploramos como a grandes países desconhecidos. E, se nos empregamos assiduamente, não só na contemplação estética mas também na expressão dos seus modos e resultados, é que a prosa ou o verso que escrevemos, destituídos de vontade de querer convencer o alheio entendimento ou mover a alheia vontade, é apenas como o falar alto de quem lê, feito para dar plena objetividade ao prazer subjetivo da leitura. </p><div><i>O Livro do Desassossego </i></div><div><i>001 </i></div><div><i>Fernando Pessoa </i></div><div><i>1935 dC </i></div><div><i>Editora: Revista Visão</i></div>Tiago Francohttp://www.blogger.com/profile/11941799217620099189noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8278734257344903497.post-8352740225215795332021-03-08T08:00:00.003+00:002021-03-08T08:00:00.500+00:00Veio para ver, mas não comprarDuring those days Fingerbone was strangely transformed. If one should be shown odd fragments arranged on a silver tray and be told, “That is a splinter from the True Cross, and that is a nail paring dropped by Barabbas, and that is a bit of lint from under the bed where Pilate’s wife dreamed her dream,” the very ordinariness of the things would recommend them. Every spirit passing through the world fingers the tangible and mars the mutable, and finally has come to look and not to buy. So shoes are worn and hassocks are sat upon and finally everything is left where it was and the spirit passes on, just as the wind in the orchard picks up the leaves from the ground as if there were no other pleasure in the world but brown leaves, as if it would deck, clothe, flesh itself in flourishes of dusty brown apple leaves, and then drops them all in a heap at the side of the house and goes on. So Fingerbone, or such relics of it as showed above the mirroring waters, seemed fragments of the quotidian held up to our wondering attention, offered somehow as proof of their own significance. But then suddenly the lake and the river broke open and the water slid away from the land, and Fingerbone was left stripped and blackened and warped and awash in mud. <div><br /></div><div><i>Housekeeping </i></div><div><i>Página 73 </i></div><div><i>Marilynne Robinson </i></div><div><i>1980 dC </i></div><div><i>Editora: Faber and Faber
</i></div>Tiago Francohttp://www.blogger.com/profile/11941799217620099189noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8278734257344903497.post-80492287410109694342021-03-01T08:00:00.011+00:002021-03-01T08:00:04.901+00:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCqFxCxppl9-kl_rD8eDLGGMpLn2H5dPknfKtH155itXbe4FdOhgPYPnmzWsExiB7L0kbj3a3cNG1zBv_Eos-qZ1nczfe7hwDnueiclJC0Uot_Z64hP69Rg1j0DR2HBlVjV45kp8II0DoO/s750/blow+up.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="750" data-original-width="450" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCqFxCxppl9-kl_rD8eDLGGMpLn2H5dPknfKtH155itXbe4FdOhgPYPnmzWsExiB7L0kbj3a3cNG1zBv_Eos-qZ1nczfe7hwDnueiclJC0Uot_Z64hP69Rg1j0DR2HBlVjV45kp8II0DoO/w384-h640/blow+up.jpg" width="384" /></a></div><br />They started out as perfectly good pictures of the scene in the park. But the more Hemmings blew them up, the less they really revealed. Finally he reached full magnification, and they were nothing more than masses of dots – just like the unsatisfactory paintings of his artist friend, who lived across the alley. <div><br /></div><div>I'm not sure it really matters whether there was a murder or not, but when I'm closely pressed by players of the Blow-Up Game, I suggest that Hemmings' camera photographed a murder and Antonioni's did not, even though both were aimed at the same place in space and time. This disparity may be a subtle pun, built right into the film. Is Antonioni trying to tell us that the more we blow up "Blow-Up," the less we will be able to learn about it? </div><div><br /></div><div>If that is so, then what conclusion can we draw? My guess, a pretty obvious one, is that Antonioni is trying to demonstrate the unreality of modern life. We depend to a fantastic degree upon the media to tell us what is real. An event does not happen unless it is photographed, filmed, televised, and written up in the newspaper. </div><div><br /></div><div>Perhaps Antonioni is suggesting that the media have gone wild, creating events that never happened and leaving real events unreported. Perhaps he is saying that many of us, like his photographer, would not know what to do if we were confronted by reality and didn't have the tube or Time magazine to tell us what to think about it.</div><div><br /></div><div><span style="color: black;"><a href="https://www.rogerebert.com/roger-ebert/the-blow-up-game">Crítica a Blow Up, de Michelangelo Antonioni</a></span></div><div>Roger Ebert</div><div>1967 dC</div>Tiago Francohttp://www.blogger.com/profile/11941799217620099189noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8278734257344903497.post-40638412742351034712021-02-23T08:00:00.011+00:002021-02-23T08:00:00.745+00:00Preciso de ver o mundo através de metáforas<div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://www.theredhandfiles.com/wp-content/uploads/2021/02/Picture-1-3.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="800" data-original-width="669" src="https://www.theredhandfiles.com/wp-content/uploads/2021/02/Picture-1-3.png" /></a></div><br /></div><div>Personally, I need to see the world through metaphors, symbols and images. It is through images that I can engage meaningfully with the world. The personalising of this invisible notion of the spirit is necessary for me to fully understand it.<div></div></div><div><br /></div><div><i><a href="https://www.theredhandfiles.com/i-have-been-reading-tolstoys-the-gospel-in-brief-and-wondered-if-you-had-read-this-short-book-what-does-christ-mean-to-you-i-hear-his-name-mentioned-in-many-of-your-songs-but-thematically-the/" target="_blank">The Red Hand Files</a></i></div><div><i>Nick Cave</i></div><br />Tiago Francohttp://www.blogger.com/profile/11941799217620099189noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8278734257344903497.post-14648047904227367072021-02-22T08:00:00.011+00:002021-02-22T08:00:00.281+00:00Tinham perdido a crença em Deus sem saber porquê<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8lmjDcyVfbV0L07E0YjIKhPo0MVyJUzqu-daoRv1sEnFgZSyrqc8VJCKTbarQQUNKr8tvj_64HrPB6jULlJ7k4mh5PG0J7UjmnXEAerabOB1MwWOpY1MvkxQtPibgUA6gyddPcJe7ga-k/s420/pan.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="413" data-original-width="420" height="630" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8lmjDcyVfbV0L07E0YjIKhPo0MVyJUzqu-daoRv1sEnFgZSyrqc8VJCKTbarQQUNKr8tvj_64HrPB6jULlJ7k4mh5PG0J7UjmnXEAerabOB1MwWOpY1MvkxQtPibgUA6gyddPcJe7ga-k/w640-h630/pan.jpg" width="640" /></a></div><br />Nasci num tempo em que a maioria dos jovens tinham perdido a crença em Deus, pela mesma razão que os seus maiores a tinham tido — sem saber porquê. E então, porque o espírito humano tende naturalmente para criticar porque sente, e não porque pensa, a maioria desses jovens escolheu a Humanidade para sucedâneo de Deus. Pertenço, porém, àquela espécie de homens que estão sempre na margem daquilo a que pertencem, nem vêem só a multidão de que são, senão também os grandes espaços que há ao lado. Por isso nem abandonei Deus tão amplamente como eles, nem aceitei nunca a Humanidade. Considerei que Deus, sendo improvável, poderia ser, podendo pois dever ser adorado; mas que a Humanidade, sendo uma mera ideia biológica, e não significando mais que a espécie animal humana, não era mais digna de adoração do que qualquer outra espécie animal. Este culto da Humanidade, com os seus ritos de Liberdade e Igualdade, pareceu-me sempre uma revivescência dos cultos antigos, em que animais eram como deuses, ou os deuses tinham cabeças de animais. <div><br /></div><div><i>O Livro do Desassossego </i></div><div><i>001 </i></div><div><i>Fernando Pessoa </i></div><div><i>1935 dC </i></div><div><i>Editora: Revista Visão
</i></div>Tiago Francohttp://www.blogger.com/profile/11941799217620099189noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8278734257344903497.post-74835286196992730242021-02-15T08:00:00.005+00:002021-02-21T16:52:05.633+00:00Confiar a educação a um estranho<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkk6STNZN9OVH6p2aoUzfadc6XWs6MwpXAd0B3fFAjzdTtZNI8y9AI5kRMBYgrvwwb7uKEGMUj8ApgkFLoGOvogBhyphenhyphenru3gM9AWXNwXDo3LbAFJr9M3pFh1c0AE4PUxR8gOrSK7sOFFPNKA/s2048/viking.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1151" data-original-width="2048" height="360" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkk6STNZN9OVH6p2aoUzfadc6XWs6MwpXAd0B3fFAjzdTtZNI8y9AI5kRMBYgrvwwb7uKEGMUj8ApgkFLoGOvogBhyphenhyphenru3gM9AWXNwXDo3LbAFJr9M3pFh1c0AE4PUxR8gOrSK7sOFFPNKA/w640-h360/viking.jpeg" width="640" /></a></div><br /><div><br /></div>Northern kings generally entrusted their sons’ upbringing to a stranger, for they thought that so they would be treated with less indulgence than at home. Accordingly Helgi was fostered by Hagal, and under his care the young prince became so fearless that at the age of fifteen he ventured alone into the hall of Hunding, with whose race his family was at feud. <div><br /></div><div><i>Norse Myths </i></div><div><i>Página 173</i></div><div><i>Jake Jackson </i></div><div><i>2014 dC </i></div><div><i>Editora: Flame Tree Publishing</i></div>Tiago Francohttp://www.blogger.com/profile/11941799217620099189noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8278734257344903497.post-47679309784034779632021-02-08T08:00:00.006+00:002021-02-21T16:55:40.052+00:00A verdadeira catástrofe de Babel<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjFwQVrmSn4dTuMnkrvfRlYSMqb2H_Lz4DaG0DwD9a4qQvX3DqoGEmca4CAfqbXhU4DPkPi3HYGGgOgTqNRzL8R4OqDtul0tD0XKCyLoI6z6WQl7U8uMtQPhCC9gW2U_jQlFvIOsCcNAxmK/s1076/language_extinction.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="588" data-original-width="1076" height="350" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjFwQVrmSn4dTuMnkrvfRlYSMqb2H_Lz4DaG0DwD9a4qQvX3DqoGEmca4CAfqbXhU4DPkPi3HYGGgOgTqNRzL8R4OqDtul0tD0XKCyLoI6z6WQl7U8uMtQPhCC9gW2U_jQlFvIOsCcNAxmK/w640-h350/language_extinction.jpg" width="640" /></a></div><br />Daí que haja uma perda verdadeiramente irreparável, uma diminuição dos possíveis humanos, quando uma língua morre. Com a sua morte, não é só uma memória de gerações única e vital - os tempos do passado ou os seus equivalentes -, não é só uma paisagem, realista ou mítica, ou um calendário que se apaga, mas também as suas configurações de um futuro concebível. Uma janela fecha-se sobre o nada. A extinção das línguas que hoje testemunhamos - todos os anos dúzias delas calam-se sem remédio - é precisamente homóloga da devastação da fauna e da flora, mas em termos ainda mais definitivos. As árvores podem ser plantadas de novo, o ADN das espécies animais pode, pelo menos em parte, ser conservado e talvez reativado. Uma língua morta continua morta ou sobrevive como relíquia pedagógica no jardim zoológico das universidades. O resultado é um empobrecimento drástico na ecologia do psiquismo humano. A verdadeira catástrofe de Babel não é a divisão das línguas: é a redução do discurso humano a meia dúzia de línguas «multinacionais» planetárias. Esta redução, formidavelmente potenciada pelo mercado de massa e pela tecnologia da informação, está hoje a remodelar o globo. A megalomania tecnocrático-militar, os imperativos da avidez mercantil, estão a tornar o vocabulário e a gramática de um anglo-americano estandardizado num novo esperanto. Devido às suas dificuldades, o chinês não poderá usurpar esta triste soberania. E quando a Índia o fizer, a sua língua será já uma variante do anglo-americano. Por isso houve um simulacro tão inquietante como infame do mistério de Babel na queda das torres gémeas do World Trade Center no 11 de Setembro. <div><br /></div><div><i>Os livros que não escrevi [My unwritten books] </i></div><div><i>Página 100 </i></div><div><i>George Steiner </i></div><div><i>2008 dC </i></div><div><i>Editora: Gradiva
</i></div>Tiago Francohttp://www.blogger.com/profile/11941799217620099189noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8278734257344903497.post-39767628167281374202021-02-01T08:00:00.005+00:002021-02-21T17:02:36.331+00:00A multiplicidade de milhares de línguas mutuamente ininteligíveis não é uma maldição - 2<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPYI6c5e1AEvV5JNPj9p66OtI3ed5B6wuAgXN30BgDKx9QVaI4iXgpSGPglsOABJCrCxYHd_qNV4YM5XrYYGlcB-QQ4Ylh4gzWbgB-ZoUgonuIQ5RD7Jk92YTeEXF_g4TzLEP7hTIxCvQq/s1024/cavalos_pelagens.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="616" data-original-width="1024" height="384" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPYI6c5e1AEvV5JNPj9p66OtI3ed5B6wuAgXN30BgDKx9QVaI4iXgpSGPglsOABJCrCxYHd_qNV4YM5XrYYGlcB-QQ4Ylh4gzWbgB-ZoUgonuIQ5RD7Jk92YTeEXF_g4TzLEP7hTIxCvQq/w640-h384/cavalos_pelagens.jpg" width="640" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div>O espaço, que é uma construção social não menos do que neurofisiológica, é linguísticamente cartografado e inflectido. As línguas habitam-no diferentemente. Através da sua «cartografia» e da nomeação das coisas, as comunidades linguísticas em causa sublinham ou elidem contornos e traços variáveis. O espectro das distinções precisas entre diferentes tonalidades e texturas da neve nas línguas de esquimós, o rol das cores que diferenciam as pelagens dos cavalos no falar dos gaúchos argentinos, são dois exemplos paradigmáticos. Os dialetos da Grã-Bretanha produzem mais do que cem palavras e expressões que designam os esquerdinos. A equação entre a mão esquerda (sinistra) e o mal atravessa as culturas mediterrânicas. A antropologia estrutural ensinou-nos que os conceitos e as identificações que se referem às relações de parentesco são inelutavelmente linguísticos. Até noções tão fundamentais como parentesco ou incesto dependem das taxinomias, de uma codificação lexical e sintática inseparável das opções - coletivas, económicas, históricas, rituais - anunciadas pelo discurso. Verbalizamos, «fraseamos», como faz a música, as nossas relações connosco próprios e com os outros. "Eu" e "tu" são factos sintáticos. Há vestígios linguísticos de casos em que esta distinção se tolda, como, pode exemplo, no dual do grego arcaico. Embora possa assumir registos «surrealistas», a gramática dos nossos sonhos é linguisticamente organizada e diversificada muito para além das províncias social e historicamente circunscritas da psicanálise. Como seria enriquecedor termos pesadelos ou sonhos orgásticos, por exemplo, em albanês. <div><br /></div><div><i>Os livros que não escrevi [My unwritten books] </i></div><div><i>Página 98</i></div><div><i>George Steiner </i></div><div><i>2008 dC </i></div><div><i>Editora: Gradiva
</i></div>Tiago Francohttp://www.blogger.com/profile/11941799217620099189noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8278734257344903497.post-4289787237784920042021-01-25T08:00:00.025+00:002021-01-28T20:39:22.346+00:00Nós herdámos a destruição e os seus resultados<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdK3mmYRTzhA5WzXQQK7kqrzWh4LioQySUByr3psff_YhF1nklzR9L8zzCvLiY_s7ec_pffz7lF4bLwv3Kp-xhhb1qWdjKZuoAuPbecMfLKe-Y3PpnZ-aObFal4PyIaq0TgB0y4nz31zs2/s426/brain-machine.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="426" data-original-width="410" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdK3mmYRTzhA5WzXQQK7kqrzWh4LioQySUByr3psff_YhF1nklzR9L8zzCvLiY_s7ec_pffz7lF4bLwv3Kp-xhhb1qWdjKZuoAuPbecMfLKe-Y3PpnZ-aObFal4PyIaq0TgB0y4nz31zs2/w616-h640/brain-machine.jpg" width="616" /></a></div><div><br /></div>Quando nasceu a geração a que pertenço encontrou o mundo desprovido de apoios para quem tivesse cérebro, e ao mesmo tempo coração. O trabalho destrutivo das gerações anteriores fizera que o mundo, para o qual nascemos, não tivesse segurança que nos dar na ordem religiosa, esteio que nos dar na ordem moral, tranquilidade que nos dar na ordem política. Nascemos já em plena angústia metafísica, em plena angústia moral, em pleno desassossego político. Ébrias das fórmulas externas, dos meros processos da razão e da ciência, as gerações, que nos precederam, aluíram todos os fundamentos da fé cristã, porque a sua crítica bíblica, subindo de crítica dos textos a crítica mitológica, reduziu os evangelhos e a anterior hierografia dos judeus a um amontoado incerto de mitos, de legendas e de mera literatura; e a sua crítica científica gradualmente apontou os erros, as ingenuidades selvagens da "ciência" primitiva dos evangelhos; ao mesmo tempo, a liberdade de discussão, que pôs em praça todos os problemas metafísicos, arrastou com eles os problemas religiosos onde fossem da metafísica. Ébrias de uma coisa incerta, a que chamaram "positividade", essas gerações criticaram toda a moral, esquadrinharam todas as regras de viver, e, de tal choque de doutrinas, só ficou a certeza de nenhuma, e a dor de não haver essa certeza. Uma sociedade assim indisciplinada nos seus fundamentos culturais não podia, evidentemente, ser senão vítima, na política, dessa indisciplina; e assim foi que acordámos para um mundo ávido de novidades sociais, e com alegria ia à conquista de uma liberdade que não sabia o que era, de um progresso que nunca definira. <div>Mas o criticismo frustre dos nossos pais, se nos legou a impossibilidade de ser cristão, não nos legou o contentamento com que a tivéssemos; se nos legou a descrença nas fórmulas morais estabelecidas, não nos legou a indiferença à moral e às regras de viver humanamente; se deixou incerto o problema político, não deixou indiferente o nosso espírito a como esse problema se resolvesse. Os nossos pais destruíram contentemente, porque viviam numa época que tinha ainda reflexos da solidez do passado. Era aquilo mesmo que eles destruíam que dava força à sociedade para que pudessem destruir sem sentir o edifício rachar-se. Nós herdámos a destruição e os seus resultados. </div><div>Na vida de hoje, o mundo só pertence aos estúpidos, aos insensíveis e aos agitados. O direito a viver e a triunfar conquista-se hoje quase pelos mesmos processos porque se conquista o internamento num manicómio: a incapacidade de pensar, a amoralidade, e a hiperexcitação. </div><div><br /></div><div><i>O Livro do Desassossego </i></div><div><i>175 </i></div><div><i>Fernando Pessoa </i></div><div><i>1935 dC </i></div><div><i>Editora: Revista Visão
</i></div>Tiago Francohttp://www.blogger.com/profile/11941799217620099189noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8278734257344903497.post-20032459156569840132021-01-18T08:00:00.018+00:002021-01-24T16:46:43.694+00:00Sabiam ser sólidas entidades morais<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcjbsE52GiJQgu99qTG_0_o79-KAsACmexyc7thNWMXconRCDWby06Z7lwVA3YW_akQdccZo6qd9CChjrqRp0jS08VXAfO9ixqvMzJoVsJvL4U-7b8co8baqwzvTRLBxY4-0XWMRIgcIvZ/s2048/hard+work.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1301" data-original-width="2048" height="406" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcjbsE52GiJQgu99qTG_0_o79-KAsACmexyc7thNWMXconRCDWby06Z7lwVA3YW_akQdccZo6qd9CChjrqRp0jS08VXAfO9ixqvMzJoVsJvL4U-7b8co8baqwzvTRLBxY4-0XWMRIgcIvZ/w640-h406/hard+work.jpg" width="640" /></a></div><br /><div>Não foi preciso muito tempo para que todas as colinas escalvadas entre King City e San Ardo fossem divididas entre famílias miseráveis, espalhadas pelos montes, lutando furiosamente para arrancar a subsistência ao solo pedregoso. Essa gente partilha com os coiotes uma vida de desespero, na extremidade do mundo do vale. Tinham chegado sem um chavo, sem material, sem ferramentas, ignoravam as técnicas da agricultura a aplicar nesse país novo para eles. Pergunto a mim mesmo se eram divinamente estúpidos ou se viviam animados por uma fé imensa. Seja como for, uma aventura colectiva de tal importância não deve reproduzir-se todos os dias neste pobre globo. As famílias cresceram e multiplicaram-se. Possuíam uma ferramenta ou uma arma que já não se sabe utilizar em nossos dias. Talvez alguém ainda a consiga descobrir. Diz-se que essas pessoas obtinham de um Deus justo e bom a força para viver e que os outros problemas se resolviam por si. Mas eu creio que é porque tinham confiança em si próprios, na sua qualidade de homens, porque sabiam ser, para lá da dúvida, sólidas entidades morais, pelo que podiam oferecer a Deus a sua coragem e a sua dignidade, recebendo-a novamente d’Ele, mas mais fortalecida. Se tais coisas desapareceram é talvez por os homens já não confiarem em si próprios. E se assim é, a única solução que lhes resta é procurarem um homem forte, ignorando a dúvida, e, mesmo que ele não tenha razão, agarrarem-se-lhe às abas do casaco.</div><div><br /></div><div><i>A Leste do Paraíso [East of Eden] </i></div><div><i>Página 18 </i></div><div><i>John Steinbeck </i></div><div><i>1952 dC </i></div><div><i>Editora: Livros do Brasil
</i></div>Tiago Francohttp://www.blogger.com/profile/11941799217620099189noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8278734257344903497.post-69602551207117931462021-01-11T08:00:00.015+00:002021-01-11T20:55:50.369+00:00Do mal o menos, animou-se um pouco a conversa…<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1n3pPCqSzwGT0iZImeQVaQIlv-0m95a1ami5z2GrClSqm6Pg7N1UxrIiP5gNGuiQM7MtnNsPop6pOGS-M2pC03eUQIcrvL5KPCRxsO_GwfyxhstARFIZJDlAOPLgxWGLJ-jzSXjeYuwYq/s610/smartphone.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="458" data-original-width="610" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1n3pPCqSzwGT0iZImeQVaQIlv-0m95a1ami5z2GrClSqm6Pg7N1UxrIiP5gNGuiQM7MtnNsPop6pOGS-M2pC03eUQIcrvL5KPCRxsO_GwfyxhstARFIZJDlAOPLgxWGLJ-jzSXjeYuwYq/w640-h480/smartphone.jpg" width="640" /></a></div><br />Infelizmente, o movimento instintivo derrubou um copo de vinho tinto por cima do aparelho de uma senhora de porte severo que se encontrava à minha direita e que, depois de soltar um grito agudo, lembrando o piar agoirento de algumas aves noturnas, começou a murmurar imprecações de teor algo insultuoso, enquanto procurava, desesperada, na carteira um lenço com que pudesse minorar os estragos provocados no pequeno engenho.
<div>
- Tem aqui o meu guardanapo - decidi mostrar-lhe a minha solicitude, a despeito dos lamentáveis impropérios que ciciava. - São coisas que acontecem quando menos se desejam…
<div>
E de novo o Mendonça:
<div>
- São coisas que não deviam acontecer, pois têm efeitos irreparáveis, sobretudo nesses modelos… Basta um pingo de suor, uma lágrima, um pouco de baba, para deixarem de funcionar!
<div>
- Pois eu encomendei há dias um que pode levar-se para a banheira ou até para a piscina! - Elucidou o corcunda.
<div>
- Ah, sim?! Mas que maravilha… e que prático!
<div>
Era a voz da minha mulher.
<div>
- O meu filho, que vive na Austrália, usava um enquanto fazia surf, e ainda telefonou para a praia, a pedir socorro, quando foi atacado pelo tubarão! - informou de outro canto da mesa um sujeito de faces muito engelhadas. - Mas o bicho, com mais de três metros, também o engoliu, junto com o braço…
<div>
- E um pedaço da anca… - comentou em tom lamuriento uma senhora robusta que deveria ser mãe do amputado.
<div>
- Pois é… - concluiu o anfitrião, voltando a lançar-me um olhar rancoroso. - A vida está cheia de desgostos e de prejuízos, mas há alguns que bem poderiam e deveriam evitar-se!
<div>
Fez-se de novo silêncio e eu não resisti a comentar:
<div>
- Lamento o sucedido, mas…
<div>
- Mas o quê?... - abespinhou-se a proprietária do aparelho inutilizado.
<div>
- Do mal o menos, animou-se um pouco a conversa… - atrevi-me a terminar a frase, conquanto já previsse que seria mal acolhida por todos.
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Na verdade, há situações da vida em que não consigo suster a ironia.
</div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div><div><br /></div><div><div><i>Portugal Definitivo </i></div><div><i>Página 21</i></div><div><i>António Vitorino d’Almeida </i></div><div><i>2012 dC </i></div><div><i>Editora: Clube do Autor</i></div></div>Tiago Francohttp://www.blogger.com/profile/11941799217620099189noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8278734257344903497.post-9374947654458076372021-01-04T08:00:00.038+00:002021-01-04T18:39:40.344+00:00Um jantar numa atmosfera nada agradável<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAnzTVsr1e_2RIaXP4MFOM4G35Gxl4V6ZzrcCbPSFLXc2j43fmB_qcDqwxrDGJhAz5XhqPe6i87T4g7MHlnFVlkPsizkWHijSki-pUb5yuMC2Nx8KLIK9DFU5IMByD9COX7uRLM9DzeZ8X/s600/jantar+smartphone.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="319" data-original-width="600" height="340" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAnzTVsr1e_2RIaXP4MFOM4G35Gxl4V6ZzrcCbPSFLXc2j43fmB_qcDqwxrDGJhAz5XhqPe6i87T4g7MHlnFVlkPsizkWHijSki-pUb5yuMC2Nx8KLIK9DFU5IMByD9COX7uRLM9DzeZ8X/w640-h340/jantar+smartphone.jpg" width="640" /></a></div><br />Quanto ao jantar, consistiu numa refeição gastronomicamente correcta, mas devo dizer que decorreu numa atmosfera pouco ou nada agradável. <div><br /></div><div><div>O silêncio devia-se ao facto perturbador de que quase todas aquelas pessoas tinham junto do respectivo prato um pequeno aparelho luminoso no qual deslizavam um dedo ou, no caso de uma senhora velhinha que devia ser avó do Mendonça, carregando um pauzinho preto, uma espécie de palito mais grosso e alongado.
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Percebi que se tratava de um objecto já em desuso, apropriado à idade da vetusta utente, cuja mão tremia enervantemente, sendo talvez por isso que lhe tinham fornecido o pauzinho, uma espécie de muleta electrónica.
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Desviei o olhar da macróbia numa louvável tentativa de iniciar qualquer conversação interessante, começando por um elogio à sopa de agriões, uma tradição muito portuguesa, mas ninguém me prestou atenção, pois verifiquei que estavam todos a ler e a escrever, mesmo enquanto levavam a colher à boca, uma série de frases curtas cujo conteúdo e significado é óbvio que me escapava.
Daí também resultou que a única voz que se fazia ouvir era a minha, introduzindo um monólogo monótono e até com laivos burlescos num acto social que sempre imaginei caracterizado pela vivacidade do diálogo entre os comensais.
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Embora não seja amante desse tipo de humor, cheguei mesmo a contar duas ou três anedotas que ainda retinha na memória dos meus tempos de estudante, mas verifiquei, dominado por um crescente incómodo, que ninguém reagiu, penso mesmo que ninguém ouviu, nem a minha mulher, atentíssima ao que se passava num aparelho alegadamente mais sofisticado - pois emitia de quando em quando uns ruídos tamborilantes de batuque -, que era manipulado com afã e aparente destreza por um cavalheiro corcunda que ficara sentado ao seu lado.
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- Temos música…! - comentei, com a possível jovialidade que a situação me permitia.
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E obtive pelo menos uma reacção:
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- É o sistema que está lento! Ontem foi o mesmo!... - grasnou o amarranado, a boca atafulhada de puré de batata e molho, pois, talvez devido à acentuada corcova, conjugava mal as garfadas com a utilização do aparelhinho.
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- Curioso… - comentei, optando por uma expressão preocupada. - E já agora, se não levarem a mal a minha indiscrição, para que servem concretamente esses objectos?
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- Servem para tudo, meu caro senhor! - exclamou o dono da casa, num tom de voz bastante agreste. - Mas agora, se nos permite, agradecia que não nos interrompesse, pois o meu sistema também está lento! Lentíssimo!
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- Pronto! Pronto! Longe de mim desconcentrar Vossa Excelência! - ripostei, com um gesto amplo do antebraço que me é peculiar, um pouco à maneira das saudações hitlerianas, embora sem quaisquer conotações de ordem política ou ideológica.
</div><div><br /></div><div><i>Portugal Definitivo </i></div><div><i>Página 20</i></div><div><i>António Vitorino d’Almeida </i></div><div><i>2012 dC </i></div><div><i>Editora: Clube do Autor</i></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div>Tiago Francohttp://www.blogger.com/profile/11941799217620099189noreply@blogger.com0