Na verdade, o conceito de comércio televisivo que triunfa na Casa dos Segredos não tem nenhuma ideia "escandalosa" - o "es-cândalo" é tão-só um gadget de marketing, vazio e instrumental. O sistema narrativo imposto aos olhares dos espectadores consiste em criar momentos "exóticos", desligados de qualquer elaboração de um qualquer ponto de vista, multiplicando a vulgaridade do pitoresco (há dias, as câmaras fixavam-se longamente nos gestos de um homem que massajava os pés de uma mulher...). O objetivo, brutal e inane, é apenas um: gerar um olhar de pura indiferença. O verdadeiro escândalo (escândalo de poder, entenda-se) é esse: a injeção quotidiana, em todo o tecido social, de avalanchas de indiferença, de tal modo que a contemplação das imagens produza um bocejo de pueril gratificação. Fenómenos como a Casa dos Segredos massacram, dia após dia, qualquer entendimento minimamente inteligente do trabalho com as imagens. Mais do que isso: escamoteiam o
"Examinai tudo. Retende o bem", I Tessalonicenses 5:21