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A mostrar mensagens de fevereiro, 2019

Olhar o mar do alto de uma falésia

Olhar o mar do alto das arribas. Percorrer instintivamente, num olhar balanceado, todo o circuito do horizonte. Olhar em baixo o cavado das ondas com grandes veios de mármore, seguir-lhes o percurso até às rochas, vê-las estoirar contra elas e erguerem-se numa explosão alta de espuma ao retardador. Aspirar fundo o seu aroma genesíaco a infinitude, a espaço e solidão. Ouvir-lhe o fervor na caldeira do mundo. Sentir instantâneamente a distância da fragilidade e pequenez à imensidão poderosa e sem limites. Conhecer o azul ainda húmido no instante da sua criação. Recolher a saudação de outras terras e outras gentes que vem na aragem por sobre a extensão das águas. Ficar atento a um sinal indistinto que anuncia o começo do mundo. Entender a linguagem cifrada de um destino comum entre mar e céu. Olhar o mar do alto de uma falésia. Pensar  página 189  Vergílio Ferreira  1992 dC Editora: Bertrand

Ir ver o mar

Ir ver o mar. Vê-lo de vez em quando e sempre com a mesma fascinação. Que é que vem dele para assim nos fascinar? A sua força imensa diante da nossa pequenez. O seu mistério visível e inquietante porque é o invisível da sua visibilidade. O irrisório da sua absurda convulsão e o aceno indistinto que vem de trás do horizonte e não sabemos o que é. O aroma a espaço, uma memória confusa de aventura, o sinal presente da sua infinitude ausente, a dilatação de nós a um poder imenso, um certo conluio com Deus. Pensar página 139 Vergílio Ferreira 1992 dC Editora: Bertrand