Olhar o mar do alto das arribas. Percorrer instintivamente, num olhar balanceado, todo o circuito do horizonte. Olhar em baixo o cavado das ondas com grandes veios de mármore, seguir-lhes o percurso até às rochas, vê-las estoirar contra elas e erguerem-se numa explosão alta de espuma ao retardador. Aspirar fundo o seu aroma genesíaco a infinitude, a espaço e solidão. Ouvir-lhe o fervor na caldeira do mundo. Sentir instantâneamente a distância da fragilidade e pequenez à imensidão poderosa e sem limites. Conhecer o azul ainda húmido no instante da sua criação. Recolher a saudação de outras terras e outras gentes que vem na aragem por sobre a extensão das águas. Ficar atento a um sinal indistinto que anuncia o começo do mundo. Entender a linguagem cifrada de um destino comum entre mar e céu. Olhar o mar do alto de uma falésia. Pensar página 189 Vergílio Ferreira 1992 dC Editora: Bertrand
"Examinai tudo. Retende o bem", I Tessalonicenses 5:21