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Mensagens

A mostrar mensagens de maio, 2020

As palavras voam, o que fica?

Verba volant, scripta manent , dizia a sabedoria dos antigos. Era a chamada de atenção para a responsabilidade do que fica escrito, contra a volubilidade do falar. Mas era também, para o nosso repouso, a certeza de que os escritos estavam aí, a toda a hora da nossa visita. Simplesmente as palavras hoje não “voam” e permanecem também nos registos magnéticos e a vozearia multiplica-se assim até à surdez. E opostamente os escritos tendem a esquecer-se, sobretudo os dos jornais, que são uma variante do falatório. Além de que nos é possível e mais fácil substituir pelas palavras que voam a escrita que já não fazemos. Quantas cartas o telefone te dispensou de escrever? Mas o próprio livro é quase sempre para “ler mais tarde”. E os chamado “livros de cabeceira” não se entende que não sejam senão para facilitarem o sono. A estante ainda é um móvel de adorno e de prestígio como outros móveis de uso e distinção. Mas a sua utilidade pouco vai além disso. O homem simplificou-se com a atrofia das f

Arte religiosa às vezes

Toda a verdadeira arte é uma expressão do sagrado.  A arte religiosa às vezes também o é. Pensar  Página 329 Vergílio Ferreira  1992 dC  Editora: Bertrand

Sentimentos por cozinhar

O sentimento em bruto, como toda a “história” em bruto para um escritor, é absolutamente intragável como a carne crua. Mas é absolutamente agradável e funcional depois de bem cozinhada. Não te iludas pois com a carne cara que compraste no magarefe, dizendo aos teus conhecidos que é muito boa. Cozinha-a e depois falamos.  Pensar  Página 345  Vergílio Ferreira  1992 dC  Editora: Bertrand

Desejar conhecer um artista que se ama

Desejar conhecer pessoalmente um artista que se ama é querer apropriar-se do mistério da sua obra. Mas é muito raro saber-se que por detrás de uma obra não está o seu autor, mas as tintas de um quadro ou a pedra de uma escultura ou as palavras de um texto e assim. Porque a arte que devia estar no artista é apenas o mistério que ele próprio desconhece. E entre uma e outro está só o intervalo onde não há já ninguém. Assim a arte é maior do que o artista. Assim ela o dispensa depois de usado e vive por si enquanto ele já apodrece. Muita gente quer conhecer a arte num artista. Mas ninguém quer conhecer o estrume que está antes de uma roseira. Pensar  Página 344  Vergílio Ferreira  1992 dC Editora: Bertrand