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Ainda no mesmo dia, um veleiro francês com o vento a bombordo, rumo a Caiena, apareceu de longe, bem inclinado pelo vento. Estava a cair rapidamente para sotavento. O Spray também estava inclinado, e estava a puxar as velas para assegurar uma boa distância da praia com o vento a estibordo, pois durante a noite uma ondulação pesada fizera-o aproximar-se demasiado da costa, e agora eu estava a pensar em implorar uma mudança do vento. Eu gozara o meu quinhão de brisas favoráveis sobre os grandes oceanos, e perguntei a mim próprio se seria correcto mudar o vento todo para as minhas velas enquanto o francês estava a ir no sentido contrário. Uma corrente de frente, com a qual ele lutava, juntamente com um vento escasso, eram suficientemente maus, por isso eu só podia dizer, dentro de mim, “Senhor, deixai ficar as coisas como estão, mas não ajudes mais o francês por agora, porque o que seria bom para ele arruinar-me-ia!”
Lembrei-me de que quando era rapaz ouvia um comandante dizer muitas vezes que em resposta a uma oração dele o vento mudou de sudeste para noroeste, satisfazendo-o por inteiro. Era um bom homem, mas será que isto glorificava o Arquitecto – o Soberano dos ventos e das ondas? Além disso, lembro-me que não se tratava de um vento alísio, mas sim de um dos variáveis que mudam quando lhe pedimos, se o fizermos durante tempo suficiente. Mais uma vez, o irmão deste homem talvez não fosse no sentido oposto, ele próprio satisfeito com um vento favorável, o que fazia toda a diferença do mundo.1

1 O Bispo de Melbourne recusou-se a guardar um dia de oração para que chovesse, recomendando ao seu povo que economizasse água na estação das chuvas. De modo semelhante, um navegador economiza o vento, mantendo uma garantia de barlavento onde for praticável.

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