Afirmei, no capítulo anterior, que é nos contos de fadas que melhor se exprime a sensação de fundo de que este mundo é estranho, sem deixar de ser atractivo. O leitor poderá, se quiser, considerar que a fase seguinte é a daquele estilo de literatura belicosa, que chega por vezes a ser patrioteira, que costuma seguir-se na história de vida de um rapaz. Todos nós devemos grande parte das nossas mais sólidas noções morais aos romances de cordel. Seja por que razão for, sempre me pareceu, e continua a parecer-me, que a melhor maneira de exprimirmos a nossa atitude em relação à vida não é em termos de crítica e aprovação, mas em termos de uma espécie de lealdade militar. A minha aceitação do universo não é optimista, é mais uma espécie de patriotismo. É uma questão de lealdade básica. O mundo não é uma pensão de Brighton, de onde possamos pensar ir-nos embora por ser uma pensão miserável. O mundo é a fortaleza da nossa família, com a bandeira erguida no alto do torreão e, quanto mais miserável for, menos justificações temos para o deixar. A questão não é que este mundo seja triste demais para se poder amá-lo ou alegre demais para se poder não o amar; a questão é que, quando de facto amamos uma coisa, a alegria dessa coisa é uma razão para a amarmos, e a tristeza dessa coisa é uma razão para a amarmos ainda mais. Enquanto motivações para o patriota inglês, os pensamentos optimistas sobre Inglaterra assemelham-se aos pensamentos pessimistas. Da mesma maneira, enquanto motivações para o patriota cósmico, também o optimismo e o pessimismo se assemelham.
Ortodoxia
página 92
G. K. Chesterton
1908 dC
Editora: Alêtheia
Ortodoxia
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G. K. Chesterton
1908 dC
Editora: Alêtheia
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