A questão é que tenho que continuar contigo - disse ele, sem qualquer nota de amargura nas palavras; nem ele a sentia.
Houve um breve silêncio antes de ela replicar:
Não me conformo com estas renúncias. Estás a abandoná-la por uma questão de escrúpulos. É uma parvoíce.
Desta vez passou um minuto ou mais sem que trocassem quaisquer palavras. Dixon sentiu que o seu papel naquela conversa, tal como no conjunto das suas relações com Margaret, tinha sido dirigido por uma coisa que era exterior a ele mas que também não se encontrava directamente presente nela. Sentiu mais do que nunca que o que dizia e fazia não provinha da sua própria vontade, nem sequer do tédio, mas de uma espécie de sentido de situação. E de onde era oriundo esse sentido se, como parecia, não participava da sua geração? Com inquietude, apercebeu-se de que na sua mente se formavam palavras. Eram palavras que, como não podia pensar noutras, rapidamente se ouviria a pronunciar. Levantou-se, pensando que poderia aproximar-se da janela e encontrar um tema de conversa alternativo naquilo que observasse, mas antes de lá chegar, virou-se e disse:
Não é uma questão de escrúpulos, mas de ver o que se tem de fazer.
A Sorte de Jim [Lucky Jim]
Página 279
Kingsley Amis
1953 dC
Editora: Quetzal
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