Shukhov continuou calmamente a fumar observando o seu excitado companheiro.
- Aliosha – disse ele, retirando o braço e soprando o fumo para a cara do baptista. – Não sou contra Deus, compreende bem isso. Acredito em Deus, não duvides. Porém, não creio no Paraíso nem no Inferno. Porque nos tomas tu por patetas e nos enches os ouvidos com essas histórias do Paraíso e do Inferno? É isso que não me agrada.
Voltou-se, deixando cair, com cuidado a cinza do cigarro entre a tarimba e a janela, a fim de não sujar o leito do capitão. Mergulhou nos seus pensamentos e deixou de ouvir os murmúrios de Aliosha.
- Bem – disse para concluir -, por muito que ores não conseguirás encurtar a tua pena. Tens que cumpri-la do princípio ao fim, de uma maneira ou outra.
- Oh, também não se deve orar por isso – retorquiu Aliosha, horrorizado. – Porque desejas a tua liberdade? Em liberdade, o teu último resíduo de fé será sufocado pelas cizânias. Deves regozijar-te por te encontrares na prisão. Aqui tens mais tempo para pensar na tua alma. Como escreve o apóstolo Paulo: “Porquê todos estas lágrimas? Porque estás a tentar enfraquecer o meu ânimo? Pela minha parte, estou pronto não só a devotar-me ao Senhor como a morrer em Seu nome.”
Shukhov fixou os olhos no tecto, silenciosamente. Agora já não sabia se queria ou não a liberdade. A princípio, desejara-a abertamente. Todas as noites contara os dias da sua pena – quantos tinham passado, quantos ainda faltavam vir. Mas, por fim, aborrecera-se de os contar. E então tornou-se-lhe claro que a homens como ele jamais seria permitido voltar a casa – esperava-o apenas o exílio. E não sabia se a sua vida seria melhor lá fora – onde? - que no campo.
Para si, a liberdade significava apenas uma coisa: o lar. Mas não permitiriam que a ele regressasse.
Aliosha não enganava. A sua voz e os seus olhos afirmavam, sem dúvida alguma, que ele se sentia feliz na prisão.
- Compreendes, Aliosha – explicou Shukhov -, para ti tudo está muito certo. Jesus Cristo desejou que fosses lançado numa prisão, e aqui estás – por amor a Ele. Mas porque motivo estou eu aqui? Por não estarmos preparados para a guerra de 1941? Por isso? Mas que culpa tenho eu?
- Aliosha – disse ele, retirando o braço e soprando o fumo para a cara do baptista. – Não sou contra Deus, compreende bem isso. Acredito em Deus, não duvides. Porém, não creio no Paraíso nem no Inferno. Porque nos tomas tu por patetas e nos enches os ouvidos com essas histórias do Paraíso e do Inferno? É isso que não me agrada.
Voltou-se, deixando cair, com cuidado a cinza do cigarro entre a tarimba e a janela, a fim de não sujar o leito do capitão. Mergulhou nos seus pensamentos e deixou de ouvir os murmúrios de Aliosha.
- Bem – disse para concluir -, por muito que ores não conseguirás encurtar a tua pena. Tens que cumpri-la do princípio ao fim, de uma maneira ou outra.
- Oh, também não se deve orar por isso – retorquiu Aliosha, horrorizado. – Porque desejas a tua liberdade? Em liberdade, o teu último resíduo de fé será sufocado pelas cizânias. Deves regozijar-te por te encontrares na prisão. Aqui tens mais tempo para pensar na tua alma. Como escreve o apóstolo Paulo: “Porquê todos estas lágrimas? Porque estás a tentar enfraquecer o meu ânimo? Pela minha parte, estou pronto não só a devotar-me ao Senhor como a morrer em Seu nome.”
Shukhov fixou os olhos no tecto, silenciosamente. Agora já não sabia se queria ou não a liberdade. A princípio, desejara-a abertamente. Todas as noites contara os dias da sua pena – quantos tinham passado, quantos ainda faltavam vir. Mas, por fim, aborrecera-se de os contar. E então tornou-se-lhe claro que a homens como ele jamais seria permitido voltar a casa – esperava-o apenas o exílio. E não sabia se a sua vida seria melhor lá fora – onde? - que no campo.
Para si, a liberdade significava apenas uma coisa: o lar. Mas não permitiriam que a ele regressasse.
Aliosha não enganava. A sua voz e os seus olhos afirmavam, sem dúvida alguma, que ele se sentia feliz na prisão.
- Compreendes, Aliosha – explicou Shukhov -, para ti tudo está muito certo. Jesus Cristo desejou que fosses lançado numa prisão, e aqui estás – por amor a Ele. Mas porque motivo estou eu aqui? Por não estarmos preparados para a guerra de 1941? Por isso? Mas que culpa tenho eu?
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