A maior prova da nossa fraqueza nos dias de hoje é que não
há nada de espantoso ou misterioso acerca de nós. A Igreja foi desvendada – a
evidência segura da sua derrocada. Temos pouco que não possa ser explanado pela
psicologia ou pelas estatísticas. Na Igreja primitiva eles juntavam-se no
pórtico de Salomão, e era tão imensa a sensação da presença de Deus que “nenhum homem ousava juntar-se a eles”. O
mundo via fogo naquela sarça e retirava-se com temor; mas ninguém tem medo de
cinzas. Hoje ousam achegar-se tanto quanto desejam. Até dão uma palmada
amigável nas costas da noiva de Cristo e têm atitudes duma familiaridade
grosseira. Se queremos mais uma vez impressionar os descrentes com o temor
saudável do sobrenatural, precisamos de recuperar a dignidade do Espírito
Santo; precisamos de conhecer de novo algo do mistério que inspira um
deslumbramento que envolve as pessoas e as Igrejas quando estão cheias do poder
de Deus.
E por fim, sobre a escuridão dos telhados lustrosos, a luz fria da manhã tépida raia como um suplício do Apocalipse. É outra vez a noite imensa da claridade que aumenta. E outra vez o horror de sempre — o dia, a vida, a utilidade fictícia, a atividade sem remédio. E outra vez a minha personalidade física, visível, social, transmissível por palavras que não dizem nada, usável pelos gestos dos outros e pela consciência alheia. Sou eu outra vez, tal qual não sou. Com o princípio da luz de trevas que enche de dúvidas cinzentas as frinchas das portas das janelas — tão longe de herméticas, meu Deus! -, vou sentindo que não poderei guardar mais o meu refúgio de estar deitado, de não estar dormindo mas de o poder estar, de ir sonhando, sem saber que há verdade nem realidade, entre um calor fresco de roupas limpas e um desconhecimento, salvo de conforto, da existência do meu corpo. Vou sentindo fugir-me a inconsciência feliz com que estou gozando da minha consciência, o modorrar de animal com q...
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