Muitas vezes pensa-se que a tentação apela somente para
aquilo que é mau no homem, para aquilo que é degradante e corrupto. Mas isso não
é verdade. A tentação de Eva, bem como a tentação de Jesus, assim nos ensinou.
Estudemos a tentação de Eva tendo em vista esta afirmação.
Em Génesis 3:6 está claro que o fruto proibido apelou para
três desejos da parte de Eva, cada um dos quais é perfeitamente normal. O
primeiro foi o apetite físico, ou o desejo de alimento. Viu Eva que a árvore
era boa como alimento. Aparentava-se como boa comida. Certamente não há falta
moral em desejar comer, tendo-se fome. Comer é em si mesmo, talvez um acto moralmente
indiferente. Ordinariamente ao menos não é erro. Foi este desejo perfeitamente
normal e natural, o desejo de alimentar-se, que o maligno usou para tentar Eva
como também Jesus. Em seguida, a Palavra diz que viu Eva que a árvore era
atraente aos olhos. Ele apelava ao sentido estético, ao belo. Desejar-se o que é
bonito não é mau em si mesmo. Em seguida é dito que ela viu que a árvore devia
ser desejada para fazer uma pessoa sábia. Apelou ao seu desejo de sabedoria.
Este é também um desejo normalmente certo.
Assim o maligno tentou Eva apelando para três dos seus
desejos perfeitamente normais em qualquer ser humano sadio. Em que consistiu
então seu pecado? Em ter ela tentado satisfazer esses desejos naturais e
normais de maneira errada, contrariamente à vontade de Deus.
Estas considerações nos ajudam a entender como a tentação
faz o seu apelo através de desejos que, se satisfeitos de modo justo, são
inteiramente normais e aceitáveis. É uma ideia absurda pensar-se que a tentação
só apela para aquilo que é baixo e ignóbil. A tentação pode apelar para aquilo
que é mais alto e melhor em nós. O pecado é perversão do bom e o pior pecado
pode ser mesmo a perversão do melhor.
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