Um dos bons exemplos desta situação é Zeitgeist, documentário-filme de 2007 produzido por Peter Joseph. Divulgado livremente na internet conseguiu obter dessa forma um sucesso mundial. A estratégia do documentário é transparente: atrair o público com uma série contínua de teorias altamente conspirativas. A que nos interessa neste momento é a primeira de todas, onde novamente as antigas teses mitológicas são apresentadas como uma novidade, de modo a concluir que a invenção da personagem de Cristo foi a primeira grande conspiração da nossa sociedade. Contudo, os erros e as falácias apresentadas são constantes, tal como é costume neste tipo de abordagens. Referências mitológicas misturam-se com fantasias do autor e relações impensáveis são defendidas com a maior naturalidade
Após apresentar o astro Sol como o mais venerado pelas culturas e religiões antigas o autor comete o erro de chamar a Hórus o 'Messias solar', afirmação que deverá ter deixado estarrecido qualquer historiador de religiões. Messias, como temos visto é um título político-religioso que apenas faz sentido no judaísmo. Este erro que arrisca deitar por terra, logo de início, toda a credibilidade do documentário não é inofensivo pois pretende forçar a comparação entre Hórus e Cristo. É então que somos bombardeados com uma sucessão de falsidades: afirma que Hórus nasceu da virgem Isís quando, pelo contrário, esta havia sido casada com Osíris antes do nascimento de Hórus nascimento que só foi possível mediante uma relação sexual com penetração vaginal; afirma que o seu nascimento foi acompanhado de um sinal prévio através de uma estrela e por uma adoração de três reis, mas nada existe na mitologia egípcia que faça supor tal coisa; considera que Hórus obteve o baptismo aos 30, começando a partir daí o seu ministério, contudo, nenhuma destas referências pode ser aceite pois termos como 'baptismo' e 'ministérios' têm o seu contexto próprio e não fazem qualquer sentido no interior da cultura egípcia; apresenta-o como tendo 12 discípulos mas, na verdade, nenhum documento refere quaisquer 'discipulos' relacionados com Hórus, e muito menos 12; afirma ainda que Hórus teria ido traído, crucificado, sepultado por 3 dias e depois ressuscitado, contudo Hórus não ressuscitou passados 3 dias. Hórus ressuscita ciclicamente tal como muitos outros deuses pagãos associados aos eventos repetitivos da natureza, principalmente aos ciclos das colheitas. Esse tipo de ressurreição nada tem a ver com a dos evangelhos. A morte e ressurreição de Jesus é um evento único não repetível e só compreensível no contexto da fé judaica. Nem mesmo entre os mitos greco-romanos é possível enontrar semelhanças. Quanto a um Hórus traído, crucificado e sepultado, são simplesmente puras invenções do autor.
O Misterioso Jesus
O Misterioso Jesus
página 280
Manuel Rainho
2010 dC
Edição do GBU Portugal
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