Nós nunca chegaremos a conhecer a nossa verdadeira vocação na vida, a menos que estejamos dispostos a aceitar o apelo radical que o Evangelho nos faz. Ao longo dos últimos vinte séculos, muitos cristãos ouviram este apelo e responderam-lhe num espírito de verdadeira obediência. Uns tornaram-se eremitas do deserto, ao passo que outros se tornaram servos na cidade. Uns partiram para terras distantes como pregadores, professores e médicos, ao passo que outros ficaram onde estavam e formaram a sua família, trabalhando fielmente. Uns tornaram-se famosos, enquanto que outros continuaram a ser desconhecidos. Embora as suas respostas revelem uma diversidade extraordinária, todos estes cristãos aceitaram o apelo de seguir a Cristo sem condescendências.
E por fim, sobre a escuridão dos telhados lustrosos, a luz fria da manhã tépida raia como um suplício do Apocalipse. É outra vez a noite imensa da claridade que aumenta. E outra vez o horror de sempre — o dia, a vida, a utilidade fictícia, a atividade sem remédio. E outra vez a minha personalidade física, visível, social, transmissível por palavras que não dizem nada, usável pelos gestos dos outros e pela consciência alheia. Sou eu outra vez, tal qual não sou. Com o princípio da luz de trevas que enche de dúvidas cinzentas as frinchas das portas das janelas — tão longe de herméticas, meu Deus! -, vou sentindo que não poderei guardar mais o meu refúgio de estar deitado, de não estar dormindo mas de o poder estar, de ir sonhando, sem saber que há verdade nem realidade, entre um calor fresco de roupas limpas e um desconhecimento, salvo de conforto, da existência do meu corpo. Vou sentindo fugir-me a inconsciência feliz com que estou gozando da minha consciência, o modorrar de animal com q...
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