Perfilados de medo, agradecemos
o medo que nos salva da loucura.
Decisão e coragem valem menos
a vida sem viver é mais segura.
Aventureiros já sem aventura,
perfilados de medo combatemos
irónicos fantasmas à procura
do que não fomos, do que não seremos.
Perfilados de medo, sem mais voz,
o coração nos dentes oprimido,
os loucos, os fantasmas somos nós.
Rebanho pelo medo perseguido,
já vivemos tão juntos e tão sós
que da vida perdemos o sentido…
o medo que nos salva da loucura.
Decisão e coragem valem menos
a vida sem viver é mais segura.
Aventureiros já sem aventura,
perfilados de medo combatemos
irónicos fantasmas à procura
do que não fomos, do que não seremos.
Perfilados de medo, sem mais voz,
o coração nos dentes oprimido,
os loucos, os fantasmas somos nós.
Rebanho pelo medo perseguido,
já vivemos tão juntos e tão sós
que da vida perdemos o sentido…
Alexandre O'Neill
1962 dC
Comentários
Este poema parece-me uma boa forma de evidenciar as contradições dos nossos tempos (ou será de todos os tempos?)
Acho que é de todos os tempos.
O Alexandre O'Neill era ateu e muito provavelmente não concordaria connosco quanto à "receita" para vencer este medo. Mas a "fotografia" do que acontece quando se capítula parece-me nítida.