- Sr. Barlow, o senhor tem medo da morte.
- Não, garanto-lhe.
- É um instinto natural, Sr. Barlow, tremer perante o desconhecido. Mas, se discutir aberta e francamente o assunto, removerá as ideias mórbidas. É essa uma das coisas que os psicanalistas nos ensinaram. Expomos os tenebrosos medos à clara luz do dia vulgar do homem não menos vulgar, Sr. Barlow. Verifique que a morte não é uma sua tragédia particular, mas o que cabe a todos os homens. Como Hamlet tão bem escreveu: “Conhece que a morte é comum; tudo o que vive tem de morrer”. - Talvez acho que é mórbido e até perigoso pensar neste tema, Sr. Barlow; mas a investigação científica provou o contrário. Muitas pessoas são as que deixam a sua energia vital esmorecer prematuramente e diminuir a sua capacidade de ganhar a vida apenas por medo da morte. Removendo tal medo aumentam efectivamente as possibilidades de vida. Escolha agora, de boa saúde e serenamente, a forma de preparação final que deseja, pague-a enquanto pode pagá-la, liberte-se da ansiedade. Tome a decisão, Sr. Barlow, que os Prados Sussurrantes pode arcar com ela.
- Hei-de reflectir maduramente nisso tudo.
- Pois deixo-lhe aqui a nossa brochura. E agora vou passá-lo à caracterizadora.
O ente querido [The loved one]
Página 56
Evelyn Waugh
1948 dC
Editora: Cotovia
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