- Em segundo lugar - disse Caspian -, quero saber porque haveis permitido que se desenvolvesse esse abominável e desnaturado tráfico de escravos, contrário aos antigos usos e costumes destes domínios.
- É necessários e inevitável. Asseguro-vos que constitui uma parte essencial do desenvolvimento económico das ilhas. A nossa prosperidade actual depende dele.
- Que necessidade tendes de escravos?
- Para exportar, Majestade. São quase todos para vender aos Calormenitas; e temos outros mercados. Somos um grande entreposto comercial.
- Por outras palavras - prosseguiu Caspian -, não precisais deles. Dizei-me para que servem, a não ser para encher de dinheiro os bolsos de indivíduos da laia de Pug?
- A juventude de Vossa Majestade - disse Gumpas com um sorriso paternal - impede que possais compreender o problema económico em questão. Tenho estatísticas, tenho gráficos, tenho...
- Por muito jovem que seja, creio perceber tanto de tráfico de escravos como Vossa Senhoria. E não vejo que traga para as ilhas carne, pão, cerveja, vinho, madeira, couves, livros, instrumentos musicais, cavalos, armaduras, nem seja o que for de valioso. Mas, seja como for, tem de acabar.
- Mas isso era fazer os ponteiros do relógio andarem para trás - disse o governador sobressaltado. - Tendes alguma ideia do que é o progresso, o desenvolvimento?
- Já os vi em embrião. Em Nárnia chamamos-lhe corrupção. Esse tráfico tem de acabar.
- Não posso tomar as responsabilidade de uma medida dessas - retorquiu Gumpas.
- Muito bem. Então demito-vos do vosso cargo. Aproximai-vos, Sr. Bern. - E antes que Gumpas percebesse o que se passava, Bern estava ajoelhado com as mãos entre as mãos do rei, a prestar juramento de que iria governar as Ilhas Solitárias de acordo com os antigos usos e costumes, direitos e leis de Nárnia. - Acho que já tivémos suficientes governadores - prosseguiu Caspian, que nomeou Bern duque das Ilhas Solítárias. - Quanto a vós, senhor - disse a Gumpas -, perdoo-vos a vossa dívida do tributo. Porém, antes do meio-dia de amanhã, vós e os vossos companheiros deveis estar fora do castelo, que é agora a residência do duque.
- Isso está tudo muito bem - disse um dos secretários de Gumpas -, mas agora é melhor deixarmo-nos de conversas e passarmos aos aspectos práticos. A questão que se põe é que...
- A questão - disse o duque - é saber se não serão precisas umas boas chicotadas para partirdes.
Quando tudo ficou resolvido, Caspian mandou buscar cavalos.
O Caminheiro da Alvorada
Editora Gradiva
páginas 54-55
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