(...) O sofá é muito confortável, nem demasiado mole, nem demasiado duro. Além do mais, a almofada adapta-se na perfeição à minha cabeça. Habituado que estou a trabalhar em qualquer lugar, sei do que falo quando digo que nem sempre é fácil encontrar um sofá cómodo onde valha a pena repousar o corpinho quando chega a hora de passar pelas brasas. Os sofás, na sua maioria, são comprados ao acaso, sem qualquer critério, revelando-se, até mesmo no caso dos mais luxuosos, uma autêntica decepção assim que a pessoa experimenta deitar-se em cima deles. Isto para dizer que poucos são os que realmente valem a pena. Não compreendo como é que, na hora de comprar um sofá, as pessoas podem dar-se ao luxo de ser tão pouco exigentes.
Defendo a teoria – ainda que tal possa não passar de um proconceito da minha parte – de que a escolha de um sofá diz muito acerca do seu proprietário. Um sofá constitui, à sua maneira, um mundo compacto e inviolável. Isso, porém, é uma coisa que só aqueles que cresceram comodamente sentados num bom sofá podem entender. Acontece o mesmo aos que cresceram a ler bons livros e a ouvir boa música. Funciona assim.
Conheço vários indivíduos que, apesar de conduzirem automóveis de alta cilindrada, têm em suas casas sofás de segunda ou terceira categoria. São pessoas que não me merecem confiança. Um carro topo de gama terá o seu valor, não o nego, mas não passa de um automóvel caro. Qualquer pessoa com umas massas pode comprá-lo. Ao passo que um bom sofá exige discernimento, experiência e toda uma filosofia de vida. Custa dinheiro, mas isso não basta. É impossível adquirir um sofá perfeito sem uma ideia clara e definida do que é um sofá.
O sofá em cima do qual eu me encontrava estendido pertencia, a todos os títulos, à categoria dos sofás de primeiríssima categoria. Tanto assim era que comecei a sentir pelo velhote um assomo de simpatia.
página 65-66
editora Casa das Letras
3ª edição
Defendo a teoria – ainda que tal possa não passar de um proconceito da minha parte – de que a escolha de um sofá diz muito acerca do seu proprietário. Um sofá constitui, à sua maneira, um mundo compacto e inviolável. Isso, porém, é uma coisa que só aqueles que cresceram comodamente sentados num bom sofá podem entender. Acontece o mesmo aos que cresceram a ler bons livros e a ouvir boa música. Funciona assim.
Conheço vários indivíduos que, apesar de conduzirem automóveis de alta cilindrada, têm em suas casas sofás de segunda ou terceira categoria. São pessoas que não me merecem confiança. Um carro topo de gama terá o seu valor, não o nego, mas não passa de um automóvel caro. Qualquer pessoa com umas massas pode comprá-lo. Ao passo que um bom sofá exige discernimento, experiência e toda uma filosofia de vida. Custa dinheiro, mas isso não basta. É impossível adquirir um sofá perfeito sem uma ideia clara e definida do que é um sofá.
O sofá em cima do qual eu me encontrava estendido pertencia, a todos os títulos, à categoria dos sofás de primeiríssima categoria. Tanto assim era que comecei a sentir pelo velhote um assomo de simpatia.
página 65-66
editora Casa das Letras
3ª edição
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