(...)
E isto traz-me para o outro sentido para glória – glória enquanto brilho, esplendor, luminosidade. Devemos brilhar como o sol, a Estrela Vespertina ser-nos-á oferecida. Penso que comecei a perceber o que isso significa. Por um lado, claro, Deus já nos ofereceu a Estrela Verpertina: uma pessoa pode sair e desfrutar da oferta por muitas belas manhãs, se se levantar cedo o suficiente. Mas o que é que, poderão perguntar, nós queremos? Ah, mas nós queremos muito mais do que isso – algo a que os livros de estética pouco se dedicam. Mas os poetas e as mitologias sabem tudo sobre o assunto. Não queremos apenas ver a beleza, embora, sabe Deus, até esse seja um prémio suficiente. Queremos outra coisa, que dificilmente pode ser exprimida por palavras – estar unidos com a beleza que vemos, passar para ela, recebê-la em nós, banharmo-nos nela, tornarmo-nos parte dela. É por isso que povoámos o ar, a terra e a água com deuses e deusas, e ninfas e elfos – que, embora nós não possamos, no entanto estas projecções podem, desfrutar nelas mesmas da beleza, graça e poder da qual a Natureza é a imagem. É por isso que os poetas nos dizem falsidades tão adoráveis. Eles falam como se o vento do oeste pudesse mesmo varrer a alma humana; mas não pode. Eles dizem-nos que "a beleza nascida de um som murmurante" passará para um rosto humano. Mas não passa. Ou pelo menos, ainda não passa. Porque se levamos a sério a imagética das Escrituras, se acreditamos que um dia Deus nos dará a Estrela Vespertina e nos compelir a envergar o esplendor do sol, então podemos supor que os mitos antigos e a poesia moderna, sendo falsas enquanto história, poderão estar bastante perto da verdade enquanto profecia. De momento estamos no exterior do mundo, no lado errado da porta. Nós conseguimos distinguir a frescura e a pureza da manhã, mas elas não nos tornam frescos e puros. Não nos conseguimos misturar com os esplendores que vemos. Mas todas as páginas do Novo Testamento sussurram o rumor de que não será sempre assim. Em algum dia, se Deus quiser, entraremos para o lado de dentro. Quando as almas humanas se tornarem tão perfeitas em obediência voluntária quanto a criação inanimada na sua obediência desprovida de vida, então poderão envergar a sua glória, ou melhor, aquela glória superior da qual a Natureza é apenas um primeiro esboço. Não julguem que estou a descair para uma qualquer extravagância pagã de ser absorvido na Natureza. A Natureza é mortal. Nós viveremos para além dela. Quando todos os sóis e nébulas tiverem morrido, cada um de vocês continuará vivo. A Natureza é apenas a imagem, o símbolo; mas é o símbolo que as Escrituras me convidam a usar. Somos instados a passar através da Natureza, para além dela, até àquele esplendor que ela reflecte a espaços.
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The Weight of Glory
E isto traz-me para o outro sentido para glória – glória enquanto brilho, esplendor, luminosidade. Devemos brilhar como o sol, a Estrela Vespertina ser-nos-á oferecida. Penso que comecei a perceber o que isso significa. Por um lado, claro, Deus já nos ofereceu a Estrela Verpertina: uma pessoa pode sair e desfrutar da oferta por muitas belas manhãs, se se levantar cedo o suficiente. Mas o que é que, poderão perguntar, nós queremos? Ah, mas nós queremos muito mais do que isso – algo a que os livros de estética pouco se dedicam. Mas os poetas e as mitologias sabem tudo sobre o assunto. Não queremos apenas ver a beleza, embora, sabe Deus, até esse seja um prémio suficiente. Queremos outra coisa, que dificilmente pode ser exprimida por palavras – estar unidos com a beleza que vemos, passar para ela, recebê-la em nós, banharmo-nos nela, tornarmo-nos parte dela. É por isso que povoámos o ar, a terra e a água com deuses e deusas, e ninfas e elfos – que, embora nós não possamos, no entanto estas projecções podem, desfrutar nelas mesmas da beleza, graça e poder da qual a Natureza é a imagem. É por isso que os poetas nos dizem falsidades tão adoráveis. Eles falam como se o vento do oeste pudesse mesmo varrer a alma humana; mas não pode. Eles dizem-nos que "a beleza nascida de um som murmurante" passará para um rosto humano. Mas não passa. Ou pelo menos, ainda não passa. Porque se levamos a sério a imagética das Escrituras, se acreditamos que um dia Deus nos dará a Estrela Vespertina e nos compelir a envergar o esplendor do sol, então podemos supor que os mitos antigos e a poesia moderna, sendo falsas enquanto história, poderão estar bastante perto da verdade enquanto profecia. De momento estamos no exterior do mundo, no lado errado da porta. Nós conseguimos distinguir a frescura e a pureza da manhã, mas elas não nos tornam frescos e puros. Não nos conseguimos misturar com os esplendores que vemos. Mas todas as páginas do Novo Testamento sussurram o rumor de que não será sempre assim. Em algum dia, se Deus quiser, entraremos para o lado de dentro. Quando as almas humanas se tornarem tão perfeitas em obediência voluntária quanto a criação inanimada na sua obediência desprovida de vida, então poderão envergar a sua glória, ou melhor, aquela glória superior da qual a Natureza é apenas um primeiro esboço. Não julguem que estou a descair para uma qualquer extravagância pagã de ser absorvido na Natureza. A Natureza é mortal. Nós viveremos para além dela. Quando todos os sóis e nébulas tiverem morrido, cada um de vocês continuará vivo. A Natureza é apenas a imagem, o símbolo; mas é o símbolo que as Escrituras me convidam a usar. Somos instados a passar através da Natureza, para além dela, até àquele esplendor que ela reflecte a espaços.
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The Weight of Glory
C. S. Lewis
1942 dC
1942 dC
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