Agostinho de Hipona (354-430) foi o teólogo mais influente da sua era, tendo tido especial relevância na exploração da relação entre a interpretação bíblica e a ciência. Agostinho sublinhou a importância de serem respeitadas as conclusões da ciência na exegese bíblica. No seu comentário ao Génesis, Agostinho assinalou que certas passagens estavam genuinamente abertas a diferentes interpretações. Como tal, era importante permitir que os desenvolvimentos científicos posteriores pudessem contribuir para a escolha do modo mais apropriado de interpretar uma determinada passagem.
«Em relação aos assuntos muitos obscuros e que se situam para lá da nossa visão, encontramos nas escrituras sagradas passagens que podem ser interpretadas de maneiras muito diferentes sem prejuízo para a fé que recebemos. Nesses casos, não nos devemos precitipar e escolher uma posição definitiva que possa ser justamente posta em causa pelo posterior progresso, caso contrário nós também seremos postos em causa. Não devemos pelejar pela nossa própria interpretação, mas pelo ensinamento das escrituras sagradas. Não deemos conformar o sentido das escrituras sagradas à nossa interpretação, mas a nossa interpretação ao significado das escrituras sagradas.»
Em consonância, Agostinho de Hipona exorta a interpretação bíblica a ter em conta os factos razoavelmente aceites como estando estabelecidos. Esta perspectiva sobre a interpretação bíblica visa assegurar que a teologia cristã não se deixe aprisionar numa visão do mundo pré-científica. Este sempre foi o tema dominante da interpretação bíblica ocidental. E, todavia, ela não impede os debates relativos ao melhor método de interpretação. Debates que envolvem sempre a tentativa e o erro, e que duram longos períodos de tempo de discussão e exploração com vista à escolha da melhor interpretação de uma passagem bíblica.
O Deus de Dawkins
página 92
Alister McGrath
2005 dC - 430 dC
Editora: Alêtheia
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