Comecemos por olhar para a sua definição de fé, questionando a origem desta. A fé «significa confiança cega na ausência de evidências ou mesmo apesar delas». Como pode alguém aceitar esta definição tão ridícula? Na sua «Prece para a minha Filha», Dawkins apresenta um ponto importante que também aqui é muito relevante:
«A próxima vez que alguém te afirmar que algo é verdade, deves responder-lhe: "E em que evidências se baseia isso?" E se não te apresentarem uma boa resposta, espero que penses muito bem antes de acreditares no que te foi dito.»
Que evidências existem para que alguém - e não me estou a referir às pessoas religiosas – possa definir a fé desta maneira absurda?
A verdade é que Dawkins não apresenta nenhuma prova em favor desta definição, que afinal pouco ou nada tem a ver com o sentido religioso (ou qualquer outro sentido) do mundo. Não oferece indícios de que é uma opinião representativa da opinião religiosa. Não cita em seu apoio nenhuma autoridade na matéria. Pessoalmente, eu não aceito esta definição de fé e não conheço nenhum teólogo que a possa levar a sério. Não se encontra em nenhuma declaração de fé oficial de qualquer denominação cristã. É a definição de Dawkins, estabelecida de acordo com a sua agenda, e que é apresentada como sendo característica de todos aqueles que ele quer criticar. Mas o que é mais preocupante é que Dawkins parece acreditar genuinamente que a fé é, realmente, «confiança cega», apesar de nenhum dos principais autores cristãos ter adoptado uma tal definição. Esta é uma das crenças «nucleares» de Dawkins, na medida em que determina quase todos os aspectos da sua atitude em relação à religião e às pessoas religiosas. E, todavia, as «crenças nucleares» necessitam frequentemente de ser desafiadas. É que, em sintonia com as críticas que Dawkins teceu às ideias de Paley sobre a criação, também esta crença «está errada, gloriosamente e absolutamente errada». Deixem-me oferecer a definição de fé formulada por W. H. Griffith-Thomas (1861-924), um notável teólogo anglicano, que foi um dos meus predecessores como reitor do Wycliffe Hall em Oxford. A sua definição de fé é típica de um autor cristão:
«[A fé] afecta a natureza do homem no seu todo. Começa com a convicção da mente a partir das evidências adequadas; continua na confiança do coração ou das emoções alicerçadas nas convicções, e culmina com o consentimento da vontade, atravé do qual a convição e a confiança se manifestarão como comportamento.»
Esta é uma definição boa e de confiança, que sintetiza os elementos centrais do típico entendimento cristão da fé. Fé que «começa com a convicção da mente a partir das evidências adequadas». Não me parece necessário maçar os leitores com citações de outros autores cristãos, ao longo dos séculos, para apoiar aquilo que defendo. De qualquer forma, cabe a Dawkins a responsabilidade de demonstrar através de um argumento alicerçado nas evidências que a sua definição absurda e enviesada de «fé» é típica do cristianismo.
Depois de construir o seu espantalho, Dawkins deita-o abaixo. Tarefa que não é especialmente difícil, nem intelectualmente exigente.
O Deus de Dawkins
página 111
Alister McGrath
2005 dC - 1924 dC
Editora: Alêtheia
«A próxima vez que alguém te afirmar que algo é verdade, deves responder-lhe: "E em que evidências se baseia isso?" E se não te apresentarem uma boa resposta, espero que penses muito bem antes de acreditares no que te foi dito.»
Que evidências existem para que alguém - e não me estou a referir às pessoas religiosas – possa definir a fé desta maneira absurda?
A verdade é que Dawkins não apresenta nenhuma prova em favor desta definição, que afinal pouco ou nada tem a ver com o sentido religioso (ou qualquer outro sentido) do mundo. Não oferece indícios de que é uma opinião representativa da opinião religiosa. Não cita em seu apoio nenhuma autoridade na matéria. Pessoalmente, eu não aceito esta definição de fé e não conheço nenhum teólogo que a possa levar a sério. Não se encontra em nenhuma declaração de fé oficial de qualquer denominação cristã. É a definição de Dawkins, estabelecida de acordo com a sua agenda, e que é apresentada como sendo característica de todos aqueles que ele quer criticar. Mas o que é mais preocupante é que Dawkins parece acreditar genuinamente que a fé é, realmente, «confiança cega», apesar de nenhum dos principais autores cristãos ter adoptado uma tal definição. Esta é uma das crenças «nucleares» de Dawkins, na medida em que determina quase todos os aspectos da sua atitude em relação à religião e às pessoas religiosas. E, todavia, as «crenças nucleares» necessitam frequentemente de ser desafiadas. É que, em sintonia com as críticas que Dawkins teceu às ideias de Paley sobre a criação, também esta crença «está errada, gloriosamente e absolutamente errada». Deixem-me oferecer a definição de fé formulada por W. H. Griffith-Thomas (1861-924), um notável teólogo anglicano, que foi um dos meus predecessores como reitor do Wycliffe Hall em Oxford. A sua definição de fé é típica de um autor cristão:
«[A fé] afecta a natureza do homem no seu todo. Começa com a convicção da mente a partir das evidências adequadas; continua na confiança do coração ou das emoções alicerçadas nas convicções, e culmina com o consentimento da vontade, atravé do qual a convição e a confiança se manifestarão como comportamento.»
Esta é uma definição boa e de confiança, que sintetiza os elementos centrais do típico entendimento cristão da fé. Fé que «começa com a convicção da mente a partir das evidências adequadas». Não me parece necessário maçar os leitores com citações de outros autores cristãos, ao longo dos séculos, para apoiar aquilo que defendo. De qualquer forma, cabe a Dawkins a responsabilidade de demonstrar através de um argumento alicerçado nas evidências que a sua definição absurda e enviesada de «fé» é típica do cristianismo.
Depois de construir o seu espantalho, Dawkins deita-o abaixo. Tarefa que não é especialmente difícil, nem intelectualmente exigente.
O Deus de Dawkins
página 111
Alister McGrath
2005 dC - 1924 dC
Editora: Alêtheia
Comentários