E, contudo, descubro-me a perguntar de novo, movido por um carácter de urgência crescente, o que poderá tornar plausível, o que poderá justificar o facto decididamente fanático que suscitou a interrogação inicial deste capítulo: porque continuam a existir judeus?
O Estado de Israel fornece uma resposta triunfante, e por vezes triunfalista. Uma fénix renasce das cinzas, mas com garras de aço. O seu nascimento, a sua sobrevivência perante um cerco de inimigos mortais são um milagre. Do mesmo modo que o desbravamento da terra, pedra a pedra, a fundação de uma comunidade moderna, democrática e com padrões de instrução elevados, a sua capacidade de integrar hostes sucessivas de imigrantes. Cada judeu tem hoje na terra um lugar de refúgio do assegurado. Tudo isto são prodígios sem paralelo efectivo em toda a história. Israel assinala um milagre ao mesmo tempo antigo e sem precedentes no destino dos judeus, e nas suas possibilidades de sobrevivência. Mas, para existir, Israel teve de regenerar capacidades e valores adormecidos desde o livro de Josué. Teve cultivar e glorificar os talentos militares e a sua feição implacável. Os custos internos foram consideráveis. A sociedade é por necessidade militante e muitas vezes chauvinista. Nem sempre dispõe - como poderia fazê-lo? - do tempo, do espaço ou dos meios económicos requeridos pelas actividades culturais, científicas e estéticas que enfeitam a Diáspora. Não é em Israel que os prémios Nobel ou a criação filosófica medram com pujança. Mas ainda é cedo, e também não é esse o problema de fundo.
Os livros que não escrevi [My unwritten books]
Página 174
George Steiner
2008 dC
Editora: Gradiva
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