Hoje não é tão difícil acreditar que alguém cure um doente pela fé como seria acreditar que um grupo de pessoas tivesse tudo em comum vendesse as suas propriedades e fazendas, e repartisse com todos, segundo a sua necessidade (Actos 2:44-5). É mais fácil uma pessoa falar em línguas do que um escravo «inútil» converter-se na prisão, tornar-se útil e, como resultado, passar a ser irmão em pé de igualdade com o seu antigo senhor (Filemon 8:16). É mais fácil alguém predizer o futuro correctamente do que um perseguidor feroz da igreja ser confrontado com Cristo ressuscitado, mudar toda a orientação de vida, considerar as suas ambições anteriores como «esterco», e tornar-se o grande apóstolo aos gentios (Actos 9:1-39, etc.).
E por fim, sobre a escuridão dos telhados lustrosos, a luz fria da manhã tépida raia como um suplício do Apocalipse. É outra vez a noite imensa da claridade que aumenta. E outra vez o horror de sempre — o dia, a vida, a utilidade fictícia, a atividade sem remédio. E outra vez a minha personalidade física, visível, social, transmissível por palavras que não dizem nada, usável pelos gestos dos outros e pela consciência alheia. Sou eu outra vez, tal qual não sou. Com o princípio da luz de trevas que enche de dúvidas cinzentas as frinchas das portas das janelas — tão longe de herméticas, meu Deus! -, vou sentindo que não poderei guardar mais o meu refúgio de estar deitado, de não estar dormindo mas de o poder estar, de ir sonhando, sem saber que há verdade nem realidade, entre um calor fresco de roupas limpas e um desconhecimento, salvo de conforto, da existência do meu corpo. Vou sentindo fugir-me a inconsciência feliz com que estou gozando da minha consciência, o modorrar de animal com q...
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