E por fim, sobre a escuridão dos telhados lustrosos, a luz fria da manhã tépida raia como um suplício do Apocalipse. É outra vez a noite imensa da claridade que aumenta. E outra vez o horror de sempre — o dia, a vida, a utilidade fictícia, a atividade sem remédio. E outra vez a minha personalidade física, visível, social, transmissível por palavras que não dizem nada, usável pelos gestos dos outros e pela consciência alheia. Sou eu outra vez, tal qual não sou. Com o princípio da luz de trevas que enche de dúvidas cinzentas as frinchas das portas das janelas — tão longe de herméticas, meu Deus! -, vou sentindo que não poderei guardar mais o meu refúgio de estar deitado, de não estar dormindo mas de o poder estar, de ir sonhando, sem saber que há verdade nem realidade, entre um calor fresco de roupas limpas e um desconhecimento, salvo de conforto, da existência do meu corpo. Vou sentindo fugir-me a inconsciência feliz com que estou gozando da minha consciência, o modorrar de animal com q
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Também não consegui encontrar. O máximo que se consegue na net é a primeira estrofe e o refrão:
"Ontem fui ao supermercado
Ontem fui ao superpovoado
Fiz compras aos preços actuais
Notei subidas nas tabelas…gerais
Propaganda
Propaganda
Propaganda…”
Ao falares em dilúvio em que estamos submersos lembro-me de uma ilustração do Manuel Rainho numa palestra sobre Consumismo. Tomarmos noção da situação é tão difícil como um peixe perceber que está molhado. Estes Street Kids devem ter apanhado a transição e aperceberam-se da mudança de uma forma mais sentida.
Ou seja, rir a partir dos anos 80 deve ser a melhor forma de rir da nossa sujeição actualà propaganda. Hoje, se nos quisermos rir, rimo-nos sozinhos, ou em pequenos grupos, mas dificilmente contagiamos o riso aos outros.
Sim, quem vir esta música rapidamente mete-lhe o selo de "ingénuos" e a situação fica lidada.