Quase tudo o que vais sendo vem no impulso que te move. Não apenas quando a cólera é esse impulso, ou o disparate que se te adianta, ou um sentimento qualquer que é de mais. Mesmo a arte, o pensar, o escrever. Porque o todo que em ti resulta, vem da pedra fundamental que para ele escolheste ou te calhou para o início desse todo. Há um
puzzle a organizar e que não sabes e está em ti. O resto vai sendo o que tu pensas ou vai pensando por si e o que te pertence não é bem o que supunhas que estava em ti, mas o que se revela desse estar. Depois só te resta o espanto ou a alegria ou o desapontamento de saberes o que não sabias que sabias ou não. Sê prudente e sem pressa. Vê se é possível escolheres a pedra sobre a qual erguerás o edifício. É por isso que há sempre uma cerimónia quando se põe a «primeira pedra», que é posta normalmente por uma «entidade», para que o seu prestígio contamine o edifício todo. E é por isso talvez também que essa «entidade» não está sempre à altura da cerimónia e o resultado é um mamarracho…
Pensar
Página 341
Vergílio Ferreira
1992 dC
Editora: Bertrand
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