É necessário tempo e paciência para fazer o pequeno e estranho sentir-se em casa, e é realista dizer que os pais precisam de aprender a amar os seus filhos. Às vezes, um pai ou uma mãe é honesto e livre o suficiente para dizer que viu o novo bebé como um estranho, sem sentir qualquer afeição especial, não porque a criança não fosse desejada, mas porque o amor não é uma reacção automática; nasce de uma relação que precisa de crescer a aprofundar-se. Pode-se até dizer que o amor entre pais e filhos desenvolve-se e amadurece até ao ponto em que eles podem alcançar um ao outro e descobrir-se como semelhantes; que têm muito a compartilhar e cujas diferenças em relação a idade, talentos e comportamento são menos importantes do que sua humanidade comum.
E por fim, sobre a escuridão dos telhados lustrosos, a luz fria da manhã tépida raia como um suplício do Apocalipse. É outra vez a noite imensa da claridade que aumenta. E outra vez o horror de sempre — o dia, a vida, a utilidade fictícia, a atividade sem remédio. E outra vez a minha personalidade física, visível, social, transmissível por palavras que não dizem nada, usável pelos gestos dos outros e pela consciência alheia. Sou eu outra vez, tal qual não sou. Com o princípio da luz de trevas que enche de dúvidas cinzentas as frinchas das portas das janelas — tão longe de herméticas, meu Deus! -, vou sentindo que não poderei guardar mais o meu refúgio de estar deitado, de não estar dormindo mas de o poder estar, de ir sonhando, sem saber que há verdade nem realidade, entre um calor fresco de roupas limpas e um desconhecimento, salvo de conforto, da existência do meu corpo. Vou sentindo fugir-me a inconsciência feliz com que estou gozando da minha consciência, o modorrar de animal com q...
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