(...)
Fiel - Dizei agora qual é o segundo ponto com que demonstrais a existência da obra da graça no coração.
Eloquente - Um grande conhecimento dos mistérios evangélicos.
Fiel - Deveis pôr esse em primeiro lugar, mas, seja em primeiro ou em segundo, é sempre falso, porque podemos facilmente ter muitos conhecimentos evangélicos e não termos a obra da graça nas nossas almas. Mais, pode um homem possuir toda a ciência, e, apesar disso, não ser coisa alguma, e, portanto, não ser um filho de Deus. Quando Cristo disse: «Sabeis todas estas coisas?», e os discípulos responderam: «Sim», ele acrescentou: «Bem-aventurados sois se as fizerdes». Ele não bendisse o mero conhecimento mas a sua colocação em acção. Pois não é um conhecimento que é atendido com a realização de «Aquele que conhece a vontade do seu mestre, e não o faz». Um homem pode ter o conhecimento de um anjo, e não ser sequer cristão. É o fazer que agrada a Deus. Não que o coração possa ser bom sem conhecimento. Há dois tipos de conhecimento, o que repousa na singela especulação e o conhecimento que é acompanhado com a graça da fé e do amor, e que coloca um homem a fazer de coração a vontade de Deus. O que só tem o primeiro conhecimento será um mero falador; o verdadeiro cristão não dispensa o segundo. «Dá-me entendimento, e guardarei a tua lei; sim, observá-la-ei de todo o meu coração».
Eloquente - Como estais pronto a assumir queixas e julgar precipitadamente, concluo que sois um homem azedo e mal-humorado, impróprio para uma boa conversa; assim sendo, adeus.
O Peregrino [The Pilgrim’s Progress]
Página 102
John Bunyan
1678 dC
Editora: Dikaion
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