Sentado na cadeira, olhando a Praça, ele lembra-se de quando era jovem. Nessa altura, o corpo ainda não o havia desprezado e calcorreava as montanhas em longas caminhadas de meditação. Como se sentia satisfeito com a sua força! Os seus braços eram capazes de erguer os troncos e de cavar a terra. Também o Inverno não lhe pesava como agora, em que tem de estar resguardado de tudo sob pena de que a morte lhe toque.
Olha as pessoas que esperam que assome à janela, acenando. Sabe que um gesto e um sorriso seus são momentos inesquecíveis para aqueles que viajam tantos quilómetros só para o verem. Contarão aos filhos e aos netos e guardarão a sua imagem como uma esperança para depois da vida, como uma das coisas mais importantes que lhes aconteceu.
Está sentado e a sua cabeça pende para cima do ombro. A baba cai-lhe do canto da boca, As suas mãos estão descontroladas e tremem além da sua vontade. Os pensamentos estão baralhados. É um prisioneiro de milhões de homens, do seu corpo e da deusa que ama acima de todas as coisas.
A manhã está gloriosa e o velho já nem consegue sorrir. Está só, como quando nasceu.
Blog: Transmissão Especial
Autor: João Leal
2005 dC
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